O Caminho do Pódio - Vanderlei Cordeiro, bronze exigiu mais esforço que o ouro.
Mais do que medalhista, Vanderlei Cordeiro de Lima entrou para a história dos Jogos Olímpicos graças a um infortúnio durante a maratona de Atenas, em 2004Mais do que medalhista, Vanderlei Cordeiro de Lima entrou para a história dos Jogos Olímpicos graças a um infortúnio durante a maratona de Atenas, em 2004. Vanderlei liderava a prova quando foi agarrado pelo irlandês Cornelius Horan, que invadiu a pista a apenas 7 km da linha de chegada.
O episódio lhe custou a vitória. E o bronze exigiu mais esforço do o ouro. Enquanto os competidores à sua frente cruzavam a linha de chegada no Estádio Panathinaiko extenuados, Vanderlei corria seus últimos metros de braços e sorriso abertos, fazendo um “aviãozinho” em comemoração.
O ouro não veio, mas o bronze brilha no peito de Vanderlei junto com uma medalha ainda mais valiosa, a medalha Pierre de Coubertin, a maior honraria olímpica concedida a um atleta. A homenagem é prestada a atletas que representam o verdadeiro espírito olímpico.
A carreira do ex-maratonista de 46 anos é repleta de conquistas. Antes de Atenas, Vanderlei já tinha vencido maratonas em Tóquio e em São Paulo e já tinha conquistado o ouro nos jogos Pan-americanos de Winnipeg, em 1999, e Santo Domingo, em 2003.
“Às vezes eu falo, acho que precisou um fato tão relevante como aquele para ter esse reconhecimento dentro do meu país”, diz o atleta. Para ele, o Brasil precisa ver o esporte de uma outra maneira e os Jogos Rio 2016 podem ajudar. “Esse evento está aí para fazer com que possamos ter uma visão diferente do que é esporte, que vai além do futebol. […] O brasileiro só vê o esporte no resultado, muitas vezes não conhece a vivência no esporte”, disse Vanderlei à Agência Brasil.
O Caminho do Pódio é uma série de entrevistas com nove medalhistas olímpicos brasileiros publicada pela Agência Brasil.
Agência Brasil: Qual é a sensação de subir em um pódio olímpico?
Vanderlei Cordeiro: É uma sensação indescritível. É a realização de um sonho. Poder participar dos Jogos Olímpicos é uma grande conquista. E você se tornar medalhista olímpico é uma chance que poucos atletas têm. Eu tive a oportunidade de participar de três jogos olímpicos [Atlanta, em 1996, Sidney, em 2000 e Atenas, em 2004] e fazer um planejamento para realizar um sonho e conquistar uma medalha. Não foi fruto de um acaso, foi fruto de planejamento, com muita dedicação, disciplina e comprometimento, acima de tudo.
Agência Brasil: O significa ser medalhista olímpico no Brasil, um país onde os atletas, principalmente no começo, ainda têm muita dificuldade para viver só treinando e competindo?
Vanderlei: Tive a oportunidade de ter convivido com boas pessoas que, no decorrer da minha carreira, acabaram colaborando muito para que eu pudesse fazer um planejamento da minha carreira e chegar nessa realização. Essa não é uma conquista só do Vanderlei. É um trabalho que envolveu bastante gente, que influenciou a minha vida diretamente. Sou muito grato a isso, por todas as pessoas que colaboraram para que eu pudesse chegar onde eu cheguei. No início, a colaboração da família, do professor de educação física, que foi o grande descobridor do meu talento, e depois meus treinadores, que acabaram fazendo com que eu tivesse oportunidade de desenvolver minha carreira. E sem o apoio de outras pessoas e entidades eu não teria chegado onde cheguei. Se não fossem essas pessoas, e a iniciativa privada, jamais teria a chance de chegar onde cheguei.
Agência Brasil: Como você avalia a difusão da prática esportiva no Brasil? Como o país poderia estimular mais o esporte e a revelação de novos talentos em diferentes modalidades?
Vanderlei: Nós temos grande potencial. Mas a gente sabe que nem todos têm acesso. Há um trabalho de longo prazo ainda a ser feito quanto a isso. É claro que temos muito talento, mas se comparar as regiões Norte e Nordeste com a Sul e Sudeste ainda há uma deficiência. Há muito que fazer no esporte brasileiro, potencial para isso nós temos. Precisamos ter um planejamento. Ele deve, em conjunto com as instituições, ser feito a longo prazo e com continuidade. A base do esporte está na escola, isso é fato. A maioria dos atletas são assim e eu não fui diferente. Eu saí da escola. Acho que temos que dar um pouco mais de atenção a essa base e não só visando o esportivo. Os valores do esporte para o cidadão têm uma importância muito grande.
Agência Brasil: Qual é o maior desafio para um maratonista completar uma prova e chegar entre os primeiros?
Vanderlei: O planejamento de uma maratona começa no treinamento. Cada prova tem um clima, um percurso diferente. Você se prepara para aquelas condições e de acordo com os adversários. E aí você começa a montar uma estratégia. Essa estratégia começa bem antes da maratona. E nem tudo aquilo que você planejou antes dá para desenvolver ou pôr em prática. Varia muito, condição climática, percurso. E conforme você percebendo, você molda ou muda a estratégia na corrida. O mais importante é o atleta estar bem treinado para aquilo que ele se preparou e buscar o resultado, independentemente de quem esteja na prova. Essa sempre foi a forma que eu entrei nas maratonas, procurando sempre fazer o melhor dentro do planejamento.
Agência Brasil: É inevitável falar sobre os jogos de Atenas. Você acha que sua carreira ficou marcada por conta daquele episódio do irlandês e a forma como você superou aqui
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