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Henrique Vieira Filho é artista plástico, agente cultural (SNIIC: AG-207516), produtor cultural no Ponto de Cultura “ReArte” (Certificado Ministério da Cultura), Museólogo no Museu Rearte (reconhecido pelo IBRAM/Ministério da Cultura), gestor Pontos MIS (Museu da Imagem e do Som/SP), diretor de arte (MTE 0058368/SP), produtor audiovisual (ANCINE: 49361), escritor, jornalista (MTE 080467/SP), educador físico (CREF 040237-P/SP), psicanalista, sociólogo (MTE 0002467/SP), historiador, professor de artes visuais, pós-graduado em Psicanálise, em perícia técnica sobre artes e em Biblioteconomia.
Recentemente, na Escola Estadual Profa. Maria do Carmo de Godoy Ramos, durante a exposição das minhas obras, uma pergunta singela de uma criança me pegou de surpresa, mas trouxe uma reflexão profunda: "Você copiou da internet?" Por puro reflexo, a resposta veio rápida e instintiva: "A internet é que me copiou!"
Essa troca de palavras, aparentemente trivial, escancarou uma janela para o mundo onde nossas crianças e adolescentes estão imersos. Um mundo onde o digital muitas vezes se sobrepõe ao real, e onde a linha entre o que é gerado por máquinas e o que é criado por mãos humanas se torna tênue.
Para muitos daqueles jovens, estar diante de uma pintura original, sentir a textura da tela, ver a pincelada e, mais importante, conversar pessoalmente com o artista, era uma experiência inédita. A internet, com sua onipresença, molda suas percepções a ponto de imaginarem que a criação é um mero download, uma engenharia de dados, e não um sopro de alma!
Lembrei-me de uma excursão escolar ao Cirque du Soleil com minha filha Luiza. Artistas que desafiavam a gravidade em manobras de tirar o fôlego eram observados por uma plateia que, em muitos momentos, parecia entediada. Quase como se o real não pudesse competir com o CGI, com os efeitos especiais mirabolantes do cinema. A percepção de que a maravilha ali era "de verdade", suor, esforço e talento puro, parecia ofuscada pela ideia de que, na tela, seria "ainda mais incrível".
Esse debate, essa percepção do real versus o digital na arte, foi exatamente o cerne das discussões no Workshop "Arte e Tecnologia" e o Curso de AD - Audiodescrição com auxílio de IA - Inteligência Artificial, que tive a satisfação de conduzir neste último fim de semana na Residência Artística.
Ali, pudemos explorar como a inteligência artificial, essa ferramenta poderosa, tem revolucionado processos criativos. Ela é, sem dúvida, uma aliada fantástica, capaz de assumir tarefas repetitivas e otimizar o tempo do artista, liberando-o para o que realmente importa: a concepção, a visão, a essência criativa que só a mente humana pode gerar.
É fundamental que nossas crianças e jovens compreendam essa distinção. A IA facilita, otimiza e expande, mas não substitui a faísca original. Muitas das obras digitais que tanto admiram e que os algoritmos propagam pela internet não foram feitas “pela” IA, e sim “com” a IA.
Por trás de cada pixel, cada linha de código ou cada sugestão algorítmica, existe um artista – um ser humano com suas experiências, suas emoções e sua visão de mundo, que alimenta, direciona e molda a ferramenta.
A tecnologia é um pincel moderno, um novo estúdio, mas a alma da arte continua residindo em quem a empunha.
Que sigamos mostrando à nossa juventude a beleza do fazer artístico, a alegria do encontro real e a verdade de que, no fim das contas, é a internet que sempre nos copia!

