Henrique Vieira Filho
Henrique Vieira Filho

Henrique Vieira Filho é jornalista, escritor, terapeuta, sociólogo, artista plástico, agente cultural, diretor de arte, produtor audiovisual, educador físico, professor de artes visuais, pós-graduado em psicanálise e perícia técnica de obras de arte.

Colunas

Por Trás do Digital, o Criador

Você copiou da internet?' A pergunta de uma criança que virou crônica! Henrique Vieira Filho mergulha na complexidade da arte na era da IA, mostrando como a tecnologia é ferramenta, e não criador. Leia e descubra o artista por trás do algoritmo!

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Por Trás do Digital, o Criador
A Internet É Que Me Copia - Ilustração de Henrique Vieira Filho

Recentemente, na Escola Estadual Profa. Maria do Carmo de Godoy Ramos, durante a exposição das minhas obras, uma pergunta singela de uma criança me pegou de surpresa, mas trouxe uma reflexão profunda: "Você copiou da internet?" Por puro reflexo, a resposta veio rápida e instintiva: "A internet é que me copiou!"

Essa troca de palavras, aparentemente trivial, escancarou uma janela para o mundo onde nossas crianças e adolescentes estão imersos. Um mundo onde o digital muitas vezes se sobrepõe ao real, e onde a linha entre o que é gerado por máquinas e o que é criado por mãos humanas se torna tênue. 

Para muitos daqueles jovens, estar diante de uma pintura original, sentir a textura da tela, ver a pincelada e, mais importante, conversar pessoalmente com o artista, era uma experiência inédita. A internet, com sua onipresença, molda suas percepções a ponto de imaginarem que a criação é um mero download, uma engenharia de dados, e não um sopro de alma!

Lembrei-me de uma excursão escolar ao Cirque du Soleil com minha filha Luiza. Artistas que desafiavam a gravidade em manobras de tirar o fôlego eram observados por uma plateia que, em muitos momentos, parecia entediada. Quase como se o real não pudesse competir com o CGI, com os efeitos especiais mirabolantes do cinema. A percepção de que a maravilha ali era "de verdade", suor, esforço e talento puro, parecia ofuscada pela ideia de que, na tela, seria "ainda mais incrível".

Esse debate, essa percepção do real versus o digital na arte, foi exatamente o cerne das discussões no Workshop "Arte e Tecnologia" e o Curso de AD - Audiodescrição com auxílio de IA - Inteligência Artificial, que tive a satisfação de conduzir neste último fim de semana na Residência Artística. 

Ali, pudemos explorar como a inteligência artificial, essa ferramenta poderosa, tem revolucionado processos criativos. Ela é, sem dúvida, uma aliada fantástica, capaz de assumir tarefas repetitivas e otimizar o tempo do artista, liberando-o para o que realmente importa: a concepção, a visão, a essência criativa que só a mente humana pode gerar.

É fundamental que nossas crianças e jovens compreendam essa distinção. A IA facilita, otimiza e expande, mas não substitui a faísca original. Muitas das obras digitais que tanto admiram e que os algoritmos propagam pela internet não foram feitas “pela IA, e sim “com a IA. 

Por trás de cada pixel, cada linha de código ou cada sugestão algorítmica, existe um artista – um ser humano com suas experiências, suas emoções e sua visão de mundo, que alimenta, direciona e molda a ferramenta. 

A tecnologia é um pincel moderno, um novo estúdio, mas a alma da arte continua residindo em quem a empunha. 

Que sigamos mostrando à nossa juventude a beleza do fazer artístico, a alegria do encontro real e a verdade de que, no fim das contas, é a internet que sempre nos copia!

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