Henrique Vieira Filho
Henrique Vieira Filho

Henrique Vieira Filho é jornalista, escritor, terapeuta, sociólogo, artista plástico, agente cultural, diretor de arte, produtor audiovisual, educador físico, professor de artes visuais, pós-graduado em psicanálise e perícia técnica de obras de arte.

Colunas

Olimpo + França + Portugal + China + Pindorama = Festa Junina

A crônica "Grécia + França + Portugal + China + Pindorama = Festa Junina" é uma viagem bem-humorada e informativa pelas origens multiculturais das nossas festas juninas. Revela como tradições gregas (Adonis e Pan), francesas (quadrilhas), portuguesas (navegações e sincretismo), chinesas (bandeirinhas e balões) e indígenas brasileiras (culinária e celebração da fartura) se entrelaçaram para formar essa festa tão única e amada no Brasil.

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Olimpo + França + Portugal + China + Pindorama = Festa Junina
Festa Junina Multiorigens - Ilustração: Henrique Vieira Filho

Chegou aquela época mágica do ano em que o cheiro de quentão se mistura ao arrasta-pé e o coração se enche de alegria com as festividades juninas. E, como de costume, venho eu, seu cronista de plantão, para desvendar alguns mistérios e curiosidades dessas celebrações que tanto amamos. Preparem-se, porque a viagem de hoje nos levará para muito além das fogueiras e dos balões – ou, melhor dizendo, para a origem deles!

Quem acompanhou minhas crônicas dos anos anteriores, sabe que já desvendamos alguns segredos por aqui. Já contei, por exemplo, que o nosso querido São João, o ato de pular a fogueira e até mesmo o uso de certas plantas como cravo, canela e manjericão nessas festas guardam uma relação curiosa com as tradições do deus grego Adonis

E também já revelamos que Santo Antônio herdou suas celebrações do brincalhão deus Pan. Sem falar que as nossas animadas quadrilhas e suas canções têm um pé lá na França, com suas danças de corte e letras adaptadas ao nosso jeito brasileiro.

O artigo de hoje nos levará a um Oriente que, à primeira vista, parece distante, mas que se misturou de forma surpreendente com nossas tradições juninas: a China

Pensemos nas vibrantes bandeirinhas coloridas que enfeitam cada arraial, tremulando ao vento e dando aquele toque especial de festa. E nos balões, que antigamente subiam aos céus carregando sonhos e pedidos – embora hoje saibamos, e é importantíssimo reforçar, que soltá-los é perigoso e ilegal, devido ao risco de incêndios. Mas qual a origem de tudo isso?

Pois bem, as grandes navegações, que conectaram Portugal a terras distantes, foram a ponte para essa fascinante troca cultural. Lá na China, em meio à rica tradição budista, era (e ainda é!) comum a prática de escrever orações e desejos em pequenas bandeiras, que são penduradas para que o vento as leve adiante, espalhando as súplicas pelo mundo. 

Da mesma forma, lanternas acesas, muitas vezes em formato de pequenos balões, eram soltas aos céus como oferendas e para que levassem os pedidos e preces.

Percebem a semelhança? A miscigenação de culturas e povos, característica tão marcante da nossa história, agiu mais uma vez. Essas tradições chinesas, de alguma forma, encontraram seu caminho até Portugal e, de lá, vieram para o Brasil, se entrelaçando com as festas populares e dando origem às nossas coloridas bandeirinhas e aos antigos balões juninos.

E não para por aí! Se a China deu as mãos a Portugal para colorir nosso São João, a herança indigenista, desde os tempos em que aqui se chamava Pindorama, também deixou sua marca profunda, especialmente na culinária que tanto amamos. Afinal, para os povos originários do Brasil, esta época do ano já era festiva. Com a diminuição das chuvas e o recuo das águas dos rios, surgiam as melhores oportunidades para colheitas fartas e pescarias abundantes. Era um período de celebração da fartura e da vida.

E o que comemos nas quermesses? Ah, aí está a prova dessa influência! O milho cozido, a pipoca, a paçoca, a batata-doce, a mandioca e até o guaraná são alimentos que fazem parte da culinária indígena há séculos. Eles foram incorporados às nossas festas juninas, não apenas como uma fonte de alimento, mas como um elo com a sabedoria e as tradições de quem já habitava estas terras muito antes de tudo o mais chegar.

É ou não é fascinante como as culturas se encontram e se reinventam? Nossas festas juninas são um verdadeiro caldeirão de histórias, misturas e influências que vêm de todas as partes do mundo. E é exatamente essa riqueza que as torna tão especiais e brasileiras!

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