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Henrique Vieira Filho é jornalista, escritor, terapeuta, sociólogo, artista plástico, agente cultural, diretor de arte, produtor audiovisual, educador físico, professor de artes visuais, pós-graduado em psicanálise e perícia técnica de obras de arte.
Ah, o glorioso Primeiro de Maio! Data magna em que os trabalhadores, em uníssono e merecido descanso, elevam seus pés cansados e brindam à labuta com um suspiro de alívio.
Só que, meus amigos do Circuito das Águas, a prática por aqui tem um delicioso toque de ironia turística.
Enquanto o Brasil afora planeja churrascos prolongados e maratonas de Netflix impunes, nós, abnegados habitantes destas paragens paradisíacas, preparamo-nos para a nossa particular “maratona do trabalho”.
Porque, convenhamos, feriado prolongado em cidade turística é como acender um holofote gigante chamando a legião dos que buscam refúgio do asfalto. E nós, qual formiguinhas zelosas, corremos para atender a demanda com sorrisos e a hospitalidade que nos é peculiar.
Aqui, na Residência Artística, pasme, a maioria dos que vêm apreciar as obras de arte e assistir aos curtas-metragens sobre a nossa região, moram a centenas de quilômetros daqui!.
Mesmo em meus tempos na Pauliceia, selva de pedra onde o “feriado prolongado” para mim também significava a chegada em massa de terapeutas ávidos por desvendar os mistérios da mente e do corpo. Meu consultório virava um QG da psicoterapia intensiva, com gente vinda de todos os cantos do país, trocando o descanso na rede por horas de imersão em técnicas de relaxamento (irônico, não?). Era o meu “Dia do Trabalho” turbinado, com direito a olheiras profundas e a satisfação de ver o brilho da descoberta nos olhos dos alunos.
Aqui, os hotéis, pousadas e restaurantes multiplicam seus afazeres como coelhos em lua de mel. O artesão capricha ainda mais nas lembrancinhas, sabendo que cada turista leva consigo um pedacinho da nossa Serra Negra. Os guias turísticos afinam a garganta para narrar as belezas naturais e as lendas locais, repetindo a mesma história pela décima vez com o mesmo entusiasmo (ou quase!).
É engraçado observar a inversão de papéis. O trabalhador da cidade grande foge para cá em busca de paz e sossego, enquanto o trabalhador da cidade turística dobra a jornada para proporcionar essa experiência “zen”. É quase um intercâmbio laboral não oficial, onde uns buscam recarregar as energias que nós gastamos atendendo-os.
Não me entendam mal, prezados leitores. Há uma satisfação genuína em receber bem os visitantes, em mostrar as maravilhas da nossa terra e em contribuir para a economia local. Mas, cá entre nós, existe uma pontinha de humor ácido em pensar que o “Dia do Trabalho”, para muitos de nós, se transforma no “Dia de Trabalhar Mais”.
Quem sabe um dia inventem o “Dia do Descanso do Trabalhador de Cidade Turística”? Poderíamos decretar um feriado exclusivo para nós, talvez logo depois de um desses feriados prolongados, quando a poeira baixar e o último turista satisfeito fizer o check-out.
Aí sim, teríamos o nosso merecido momento de paz, para recarregar as energias e nos prepararmos para o próximo… feriado! Porque, convenhamos, a roda turística não para, e nós seguimos girando, com um sorriso no rosto e, secretamente, a esperança de um dia de folga de verdade.