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Jornalista, pós-graduado em Marketing, MBA em Comunicação e Mídia, e MBA em Empreendedorismo e Inovação. Empreendedor, é sócio-fundador da Freestory – A primeira plataforma do Brasil de autodescrição com storytelling, IA e IoT. Com formação em Profissões do Futuro (O Futuro das Coisas) e no Programa de Capacitação da Nova Economia (Startse). É também músico, escritor, roteirista e storyteller.
O Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, representa um marco fundamental para a reflexão sobre a contribuição histórica, cultural, política e social da população negra no Brasil. No estado de São Paulo, essa data assume um papel ainda mais significativo, considerando a profundidade das desigualdades raciais persistentes no território.
A escolha da data faz referência à morte de Zumbi dos Palmares (Serra da Barriga, 1655 - Serra Dois Irmãos, 20 de novembro de 1695), líder do Quilombo dos Palmares e símbolo maior da resistência negra à escravidão. Ao contrário de datas comemorativas tradicionais associadas à abolição, como 13 de maio, o 20 de novembro enfatiza a luta e a resistência, dando protagonismo à população negra e reconhecendo sua importância histórica.
O fato é destacado no artigo "Neo Zumbilismo é Agora”: 20 De Novembro e Consciência Negra No Brasil” (2022), de Juliana Serzedello Crespim Lopes, e publicado na Revista USP, da Universidade de São Paulo: “Reivindicado por organizações do movimento social negro como data-símbolo da população negra no Brasil, o 20 de novembro se consolida ano após ano como uma contraposição às tradicionais comemorações do dia 13 de maio, referente à assinatura da Lei Áurea, que simbolizaria o fim do último sistema escravista ainda vigente no mundo em 1888”.
Juliana Lopes é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Ciências Humanas e Sociais (PCHS) da Universidade Federal do ABC (UFABC), e mestre em História Social pela FFLCH-USP. Seu estudo comenta que a disposição do povo brasileiro de comemorar esse acontecimento histórico pode revelar e ocultar diferentes processos da memória social: “Longe de serem naturais ou espontâneas, cada uma das duas datas comemorativas mencionadas traz em si elementos de compreensão dos jogos institucionais, simbólicos e políticos do Brasil contemporâneo. Assim, observa-se uma disputa social em torno do significado da experiência escravista na formação sociocultural brasileira, traduzida, em parte significativa, pelo tensionamento entre setores adeptos de uma versão conservadora do 13 de maio ou de uma versão mais popular e combativa do 20 de novembro”.
O estado de São Paulo, ao longo de sua história, recebeu grandes contingentes de população negra, tanto escravizada quanto livre. Esses povos contribuíram para a formação econômica, artística e cultural paulista. Apesar disso, as desigualdades raciais persistem de forma profunda, já que a população negra é a mais afetada por desemprego, subemprego e menores salários, bem como uma forte sub-representação de pessoas negras em cargos de liderança e espaços de poder.
Além disso, os índices de violência letal são muito mais altos entre jovens negros, representando cerca de 73% das vítimas de mortes violentas ou acidentes na sua faixa etária no Brasil, segundo um estudo da Fiocruz publicado em outubro de 2025, analisando dados de 2022 e 2023. Portanto, o Dia da Consciência Negra atua como um espaço de debate público sobre essas desigualdades e sobre a necessidade de políticas efetivas de combate ao racismo estrutural.
O dia 20 de novembro é também um momento de fortalecimento da educação antirracista, com escolas, universidades e instituições culturais paulistas promovendo atividades que abordam a história da África e da diáspora do continente, o legado de personalidades negras brasileiras, a valorização das matrizes culturais afro-brasileiras, como capoeira, samba, jongo e candomblé, e trazer à tona debates sobre identidade, representatividade e políticas públicas. Essas ações contribuem para a formação de uma sociedade mais consciente, na qual as crianças e jovens compreendem a importância da diversidade e da igualdade racial.
No estado de São Paulo, o Dia da Consciência Negra é marcado por uma diversidade de acontecimentos, tanto na capital, quanto no interior e no litoral.
A Secretaria de Estado de Turismo e Viagens (Setur-SP) lançou a 2ª edição do Guia Afroturismo, uma publicação que apresenta municípios paulistas com atrativos, experiências e roteiros que valorizam a população negra. O lançamento aconteceu na última terça-feira, dia 18 de novembro, no auditório da SPTuris, na capital paulista.
A nova edição do guia amplia significativamente o mapeamento já existente de roteiros de Afroturismo em São Paulo, lançado no ano passado com 10 indicações, e que agora, reúne 25 municípios organizados entre roteiros e atrativos turísticos. Entre os destaques de museus estão o Museu Afro Brasil e o Museu das Favelas, na capital, e o Museu Afro de Ilhabela. Além disso, há novos roteiros afrocentrados no interior do estado e próximos à Serra Negra, em municípios como Campinas, Vinhedo, Piracicaba e Sorocaba.
Roberto de Lucena, secretário de Turismo e Viagens fala da importância da celebração cultural no estado: “Com a entrega do Guia, reafirmamos nosso compromisso em fortalecer políticas públicas que promovam inclusão, representatividade e valorização da cultura afro-brasileira, posicionando o estado de São Paulo como referência nacional no desenvolvimento do Afroturismo”, disse.
“No Brasil”, afirma Juliana Lopes, “a ideia de nacionalidade se constrói com base na afirmação de sua origem colonial europeia e na negação estrutural da cidadania plena às populações de origem africana e indígena. Nesse sentido, e em consonância com este Estado-nação excludente, a construção da memória histórica nacional se caracteriza pelo silenciamento das experiências negras e pelo ocultamento das memórias de lutas das populações subalternizadas desde o processo de colonização e escravidão”.
A pesquisadora finaliza seu estudo reforçando que “ao reivindicar a memória de Palmares e de Zumbi por meio da celebração do dia 20 de novembro, os movimentos negros do Brasil se contrapuseram a uma estrutura social que vem considerando, desde a experiência colonial escravista, a população negra como incapaz de conduzir-se historicamente de forma autônoma e completa, como seres humanos plenos. Construindo esta efeméride, alcançaram muito mais do que simplesmente recontar a história dos livros escolares: abriram portas para a reconstrução do pacto republicano no pós-ditadura e deram os primeiros passos de grandes transformações sociais, como o reconhecimento da dívida histórica do país com a população negra”.
O estudo de Juliana Lopes, publicado na Revista USP, está disponível gratuitamente na internet. Para acessá-lo, clique aqui.

