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Nestor Leme é um historiador dedicado à preservação da história de Serra Negra. Além de ser o proprietário de um valioso acervo online, repleto de informações e fotografias históricas da cidade, ele também desempenha um papel crucial como colaborador no livro 'Capelas Rurais de Serra Negra – História e Fé'.
Na tarde do domingo, dia 8 de setembro do ano de 1966, eu estava vendo televisão, esperando chegar a hora do futebol, num tempo que só eram sintonizados dois canais de TV em Serra Negra: a Record, Canal 7, que exibiria o futebol, e a TV Excelsior, Canal 9, que fazia concorrência a outra. Bem, eu não lembro o que era exibido na Record, mas lembro que na Excelsior iria estrear uma série de ficção cientifica intitulada Star Trek, Jornada nas Estrelas, em português. E eu, que gosto deste estilo de filme, me acomodei no sofá para assistir a estreia da ficção. Confesso que fiquei apaixonado pela série e, com certeza, assisti todos 79 episódios exibidos. Mas de todos os episódios assistidos, tem um que se destaca nas minhas lembranças. Neste episódio, a nave espacial Interprise, chega a um planeta distante e encontra um Portal do Tempo, no qual, os exploradores espaciais, ao se aproximarem dele, tem a visão da projeção da história do nosso planeta, desde sua formação até o tempo em que a série estava representando, ou seja, eles estavam no ano 2360 D. C. mais ou menos. E sabem por que aquele assunto me interessou? Porque, assim como eu, penso que a maioria das pessoas fica imaginando num meio de reviverem toda a sua história, viajando através do tempo. E o interessante desta história, é que, sem que prestemos a atenção, estamos sempre fazendo este retorno ao passado, quando remexemos nas lembranças acumuladas em nossa memória. Eu não faço outra coisa, senão viajar no tempo à procura de assunto para os meus escritos, e isto acontece desde que acordo e fico no escuro, esperando chegar a hora de me levantar. E quando isso acontece, vou o mais longe que minhas lembranças possam me levar. Assim, me vejo no colo da saudosa Tia Chicha, irmã de minha mãe, e estamos na Praça João Zelante, que era Barão do Rio Branco, em 1945. E nós, assim como todo o povo presente no local, estamos assistindo a chegada dos pracinhas serranos, que estavam de volta à casa, depois da vitória contra o nazismo na Segunda Guerra Mundial. E por que aquele acontecimento marcou tanto na minha memória infantil? Aconteceu que um dos pracinhas serranos, ficou retido em São Paulo, onde cumpriria quarentena, e por isso, não voltou com seus companheiros para Serra Negra. Sua mãe, ansiosa a espera de sua volta, não ouvindo o nome do filho ser anunciado junto com os que retornaram, deu um grito de desespero e desmaiou ao nosso lado. Fato que ficou gravado na memória de uma criança de apenas três anos de idade. E esta, é a primeira lembrança, gravada no Portal do Tempo de minha memória.
Depois, acelero a projeção das lembranças e chego ao dia 16 de fevereiro de 1950, e já estou na classe da saudosa mestra Dona Arminda Zelante, junto de amigos, com os quais, a cada encontro, lembramos com alegria daqueles tempos felizes.
O tempo de escola acabou, chegou o tempo de trabalhar, que durou quarenta e três anos, desde que entrei como ajudante, na fábrica de artesanato do Noca Rodrigues, em 1957, até o dia 4 de novembro de 2002, quando finalmente me aposentei, tempos de onde vem a maioria das minhas memórias, onde consegui milhares de amigos, me casei com a Alice, nasceram filhos, netos e onde consegui este espaço jornalístico e vi serem publicadas centenas de passagens de nossas histórias que escrevi. Passagens que um dia devem virar um livro no qual todos possam fazer sua viagem através dos tempos, e relembrarem das histórias de suas vidas, como se estivéssemos diante da projeção de um Portal do Tempo.