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Henrique Vieira Filho é jornalista, escritor, terapeuta, sociólogo, artista plástico, agente cultural, diretor de arte, produtor audiovisual, educador físico, professor de artes visuais, pós-graduado em psicanálise e perícia técnica de obras de arte.
O Natal em Serra Negra tem um cronograma que desafia a geografia e o calendário ortodoxo. A festa de 1,5 milhão de lâmpadas acende antes de São Paulo ligar o pisca-pisca, e o Papai Noel já está de plantão na Praça John Fitzgerald Kennedy desde o dia 14 de novembro. Mas a minha crônica de hoje é sobre um milagre que transcende a lâmpada LED: o momento em que o balé russo ajuda a pagar o leite dos necessitados!
O protagonista é ele: O Quebra-Nozes. A história do balé é um causo tão cheio de reviravoltas quanto a nossa vida no interior. O conto original, lá de 1816, pelo alemão E. T. A. Hoffmann, era sombrio e meio esquisito… Tinha elementos de terror infantil, era mais para perturbar do que para embalar o sono!
Mas, como tudo na arte, precisou de um filtro francês: o escritor Alexandre Dumas, pai (o mesmo dos mosqueteiros!), pegou a história em 1844 e deu uma bela açucarada, tirando o ranço psicológico e deixando-a perfeita para consumo familiar.
É aí que mais um gênio entra em cena. Em 1892, na Rússia, Tchaikovsky pegou a versão adoçada de Dumas para compor. Confesso: ele achava a história "infantil demais", mas o czar mandou, e ele obedeceu.
O resultado? Uma estreia meio confusa, com a crítica achando que tinha personagens demais e pouca dança para os protagonistas. A única coisa que bombou de imediato foi a música – a “Valsa das Flores” e a “Dança da Fada Açucarada” (com a tal da celesta, um instrumento que ele roubou a patente de outros compositores na surdina!).
O que revitalizou o balé de Tchaikovsky? O marketing americano. Lá nos anos 50, o coreógrafo George Balanchine pegou o Quebra-Nozes, enfatizou a fantasia natalina, deu um papel de protagonista para a menina Clara, e pá! Virou tradição anual, sustentando financeiramente as companhias de balé do mundo. É o dinheiro do balé clássico ajudando a pagar as contas do ano, de Nova York ao Bolshoi!
E o que isso tem a ver com Serra Negra, a cidade do café e da água radioativa?
Tem tudo a ver! O nosso Natal – Luzes da Serra 2025 não vive só de lâmpadas. Ele vive de arte que transborda!
A cidade abraça o talento local: nossa Cia. de Dança Allegro, da querida Dayana Brunhara Rezende, que já brilham nas minhas crônicas, montou o espetáculo "O Quebra-Nozes" com quase cem bailarinos da nossa terra!
Nos dias 22 e 23 de novembro, no Centro de Convenções, a magia sombria de Hoffmann se encontra com a doçura açucarada de Dumas, tudo ao som de Tchaikovsky, coreografado por nossos artistas.
E a cereja do bolo no evento: a entrada é solidária. Você não paga só com dinheiro, mas com 1 litro de leite ou produtos de higiene, que vão direto para o Fundo Social de Solidariedade de Serra Negra.
É a prova de que a arte não vive na torre de marfim: é o balé russo transformando-se em produção comunitária e em política pública de inclusão aqui no interior de São Paulo. É a “Dança da Fada Açucarada” ajudando a pagar o leite de quem precisa. É a nossa forma de dizer que, em Serra Negra, o balé faz mais do que quebrar nozes; ele quebra a barreira entre a fantasia e a solidariedade.

