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Henrique Vieira Filho é jornalista, escritor, terapeuta, sociólogo, artista plástico, agente cultural, diretor de arte, produtor audiovisual, educador físico, professor de artes visuais, pós-graduado em psicanálise e perícia técnica de obras de arte.
Este mês, tivemos a Semana da Pátria e bem me lembro que era uma ocasião bem mais festiva nos meus tempos de criança.
Tanto que, pelos anos 70, era realizado um concurso nacional para celebrar e o desafio era criar um novo desenho-símbolo para a ocasião.
Eu observava os concursos dos anos anteriores e notava um padrão: desenhos infantis com motivos como pião e catavento, sempre nas cores verde e amarelo, eram frequentemente selecionados. Pensei: "Como posso inovar, mas ainda assim manter essa essência pátria e infantil?"
Com a mente fervilhando, decidi aplicar uma projeção lógica para o futuro. Em vez de algo estático, pensei em movimento, em algo que remetesse à liberdade e à nação.
Foi aí que surgiu a ideia: um aviãozinho de papel, também nas tradicionais cores verde e amarelo. Imaginei a simplicidade e o apelo universal desse símbolo e com esse projeto, me inscrevi na competição.
O tempo passou, e eu, estava de férias com minha família, aqui em Serra Negra, e lutava com um sinal de TV precário: o telejornal iria anunciar o vencedor e nada de conseguir sintonizar o canal!
De repente, em meio a chiados, imagens em preto e branco falhando e sem áudio, meu coração disparou ao ver na tela de tubo o desenho que eu havia criado: o aviãozinho de papel! A alegria foi imensa!
Mas, a euforia logo deu lugar ao choque: no jornal impresso do dia seguinte, ao ler os detalhes do concurso, descobri que o desenho vencedor era idêntico ao meu, mas creditado a outra criança!
Como isso era possível? A busca por respostas me levou a uma descoberta ainda mais frustrante: meu desenho, que eu considerava tão forte, havia sido desconsiderado nas etapas regionais…
A conclusão amarga foi que, apesar da ideia ser boa — tão boa que outros chegaram a pensar de forma semelhante —, a avaliação do júri foi falha. Apenas um dos concorrentes, com uma sorte melhor, teve seu trabalho reconhecido por "jurados melhores entendedores".
Para ilustrar essa história, guardo comigo a imagem do selo dos Correios que celebrou essa vitória em 1978, estampado com o meu — e não meu — aviãozinho.
Mesmo quando criamos algo com a alma, com a visão clara do que queremos transmitir, o sucesso nem sempre é imediato ou direto. A gente planta a semente, mas a mão que a cultiva, pode não ser a nossa. E tudo bem.
A verdade é que o valor de uma ideia não reside apenas em quem a cria, mas em quanto ela consegue voar, inspirar e tocar outras pessoas. A essência permanece, mesmo que a autoria se perca no trajeto.