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Jornalista, pós-graduado em Marketing. MBA em Comunicação e Mídia, e MBA em Empreendedorismo e Inovação.
“Os lugares mais quentes do Inferno estão reservados àqueles que escolheram a neutralidade em tempos de crise moral”. A frase atribuída a Dante Alighieri, no primeiro dos três livros de sua espetacular coletânea A Divina Comédia, retrata bem o sentido daquilo que devemos fazer diante de situações que podemos considerar embaraçosas. Ressaltando que compactuar com o crime - ou omitir-se diante dele - não pode ser, em hipótese alguma, considerado embaraçoso.
Os neutros estão no local mais sombrio e tenebroso do inferno de Dante, pois eles são duplamente rejeitados: por Deus, por não terem se posicionado; e por Satanás, por não se terem juntado a ele. A citação, a preferida do presidente norte-americano John Kennedy, fala sobre se posicionar e defender o direito dos que foram prejudicados, dos que foram negativamente afetados.
Racismo é crime. No ano de 2023, a presidência da República sancionou sem vetos a Lei 14.532/23, que aumenta a pena para a injúria relacionada à raça, cor, etnia ou procedência nacional. A partir da nova norma, esse tipo de injúria pode ser punida com reclusão de 2 a 5 anos.
Em uma conversa despretensiosa diante de um moderado copo de café numa manhã comum de dia de semana, vez ou outra podemos ser surpreendidos com a derrota da nobreza humana em pleno século 21: “Fui até aquela cidade, mas tudo era muito feio. Só tinha…” (silêncio, e um dedo deslizando sobre o braço). Ao interrogar sobre o que se tratava aquele gesto, o estarrecedor esclarecimento surgiu. Sim, o interlocutor se referia à pessoas pretas, relacionando sua cor de pele à toda a precariedade vivida por uma população empobrecida, vítima da ganância de líderes políticos poderosos que subtraem o pouco que essas famílias possuem para seus ganhos pessoais.
Não é novidade para ninguém - ou não deveria ser - que a culpa da falta de saneamento básico, de limpeza e manutenção das cidades, de educação, e de postos de saúde de qualidade é da ausência do Estado, e não do contribuinte, que paga impostos em absolutamente tudo o que consome: do grão de arroz ao bilhete do ônibus.
Portanto, relacionar a ascendência ou a quantidade de melanina de uma pessoa ao seu estado crítico de sobrevivência é, no mínimo, ignorância, quando não pura maldade, fruto do racismo que impera na sociedade brasileira. “Eu não tenho nada contra”, seguiu o interlocutor, como se fosse normal caso ele tivesse algo a se opor. “Eu não sou racista”, disse ele, mesmo quando não encontrou argumentos para tentar explicar o que queria dizer quando tentou associar a pobreza daqueles seres humanos à sua cor de pele.
O que nos impele a questionar: qual o comportamento que devemos ter diante de atrocidades como essas? Qual atitude tomar ao nos deparar com uma conduta tão absurdamente inadequada, equivocada e, literalmente, criminosa, principalmente quando ela parte de alguém próximo ou que consideramos conhecer bem e até mesmo chamar de “amigo”? Sem sombra de dúvida, e a fim de evitar o Malebolge, o Aqueronte ou os Estiges, a única resposta possível é se posicionar contra todo tipo de racismo e de preconceito, ainda persistente em nossa sociedade.
O garoto de 14 anos que fazia piada com minorias agora tem barba na cara, é pai de família e paga suas contas. Aquela criança, com pouco desenvolvimento cognitivo, precisa ficar no passado, suas ideias fenecerem, seus preconceitos estúpidos morrerem, e de forma alguma pode ser trazida à tona, porque na atualidade, ela simplesmente não é bem-vinda.