Uma loja de agropecuária tem produtos diversos para venda, ferramentas para uso no campo e na agricultura, como rações para animais, enxadas, roçadeiras, cordas. Estas últimas possuem inúmeros fins: fechar sacos, ou, amarrando dos lados de uma caçamba de caminhonete, para segurar objetos pesados, e até mesmo para fazer um balanço infantil. Atualmente, e com muita criatividade, as cordas são utilizadas também como itens de decoração, em lustres e luminárias. Mas se você não tiver uma ideia bem-intencionada para o seu uso…
Mas esta não é uma história sobre morte.
O carmesim, cor de sangue, desabrocha no fim da longa haste. O líquido viscoso escorre pelos dedos, e a mão levada às pressas em direção à boca, faz desaparecer imediatamente a dor. Acontece que, após tirar os espinhos e cortar fora as folhas, o seu prazo embelezando o ambiente não passa de sete dias. No máximo dez. Depois, murcha, enegrece e…
Não. Esta não é uma história sobre morte.
“Você sabe o que é olhar para o teto do seu quarto escuro, e saber que tem apenas dezessete reais dentro da carteira que está sobre a mesa? Eu não tive dúvida: acordei no dia seguinte e comprei cinco metros de corda”.
Definitivamente - creiam - esta não é uma história sobre morte.
Moinhos de vento, sapatos de madeira e toda a decoração cor de laranja. O cenário poderia refletir os Países Baixos, que tem a sua região mais famosa conhecida como Holanda. Porém, não estamos falando de um destino tão longínquo. Pelo contrário, essas são características de um município que pertence à região conhecida como Circuito das Águas Paulista, que reúne nove cidades do interior do estado de São Paulo, na região administrativa de Campinas. Uma delas é a famosa Holambra - aglutinação de “Holanda”, “América” e “Brasil” - chamada de Cidade das Flores. Aliás, o destino turístico é famoso por sediar a Expoflora, reconhecida como a maior feira de flores da América Latina.
É de lá que vêm algumas das variedades que embelezam praças e parques públicos de diversas cidades do Brasil, incluindo Serra Negra; empreendimentos imobiliários e de escritórios também colorem seus jardins com as flores cultivadas ali. Além de exportar a imagem de um destino apaixonante para turistas brasileiros e estrangeiros, Holambra envia a todo o país sua principal fonte de recursos econômicos, que perfuma o ambiente e agrada o olhar.
E se desde 2013, a Cidade das Flores integra o Circuito das Águas, desde 2009 a Cidade da Saúde - reconhecida pela qualidade de sua água - tem sua atividade com o plantio de flores: “Eu montei uma parceria com a Portugal Flores, um atacadista que já está no ramo há mais de 30 anos, em 2009, e montamos o projeto da rosa vermelha Samourai®, uma flor muito bonita e que está tendo destaque em Serra Negra por conta do seu ciclo, muito parecido com o da Angola, no continente africano e que, inclusive, tem a mesma temperatura de Serra Negra. Estamos numa altitude de 1000 metros e uma topografia excelente, além da água de altíssima qualidade para a produção”, destaca Rodrigo Fernandes, sócio-proprietário do Park Vitrine das Flores. Ele comenta que atualmente, a fazenda possui 4 hectares, com uma produção estimada em torno de 20 mil dúzias por mês de rosa vermelha.
E assim que esse primeiro projeto foi concluído, Fernandes recebeu um convite, em 2019, para conhecer a Colômbia: “Sabemos que hoje as melhores rosas são desse país. E como só trabalhava com a rosa vermelha, eu fiquei apaixonado por outras variedades nesse país, e resolvi, então, montar uma estufa pequena para fazer um comparativo de variedades, a fim de que eu pudesse, futuramente, ampliar a minha área deixando um pouco a vermelha e entrando com outras cores, como a rosa Avalanche e a branca”, lembra o produtor.
E foi assim que Rodrigo Fernandes e Antônio Aparecido Portugal tiveram a ideia de expor variedades de rosas dispostas em uma vitrine, da mesma forma que as lojas fazem com suas roupas, sapatos e perfumes. Nasce, então, o Park Vitrine das Flores em Serra Negra.
Quem caminha pela estrada Paulo Marchi em direção ao Alto da Serra ou descendo do topo da montanha, bem de longe consegue avistar enormes estufas cobertas de lonas brancas a quilômetros de distância, em outra montanha, próxima ao Ribeirão do Pantaleão, caminho da Rua Norberto Quaglio, na divisa entre os bairros São Luiz e Belvedere do Lago. É ali o corpo de um empreendimento que em 4 hectares cultiva variedades diversas de rosas de altíssima qualidade, que são vendidas, inclusive, na própria Cidade das Flores.
“O café em suas abençoadas lavouras era a maior riqueza dos pequenos vilarejos brasileiros no final do século XIX, que já estava chegando ao fim. Até 1930, a cultura cafeeira serviu como esteio da economia nacional e as exportações, em 1927, atingiam níveis que superavam a marca das 15 milhões de sacas, tendo uma brusca retração de 11% no ano seguinte. A produção do grão no Brasil era suficiente para atender quase o consumo total da bebida no planeta, e os depósitos chegaram a estocar sacas por até dois anos.
O baixo custo e a elevada produção fizeram com que o governo brasileiro tomasse medidas severas em relação à produção e exportação no armazenamento do café. Milhares de toneladas de café foram queimadas a fim de elevar o seu preço e, dezenas de fazendas decretaram falência após diversos problemas enfrentados como falta de compradores, e em especial, países europeus que trocaram o mercado brasileiro por outros produtores mundiais.
Para piorar, a quebra da bolsa de Nova York, no ano de 1929, conduziu pequenas cidades paulistas a entrarem em profunda crise. E Serra Negra foi uma delas".
A história da Rodada de 1929, que conta a famigerada quebra da Bolsa de Nova York, já foi relatada nesta série. A citação acima foi retirada do livro “De Nanquins e Digitais - A História da Imprensa de Serra Negra”, escrito por mim no ano de 2015. E mais uma vez, a narrativa da derrocada do café retorna, para nos fazer lembrar que o povo de Serra Negra possui uma dívida eterna com a natureza. Enquanto famílias inteiras viam suas economias sucumbirem ante ao desastre econômico mundial, a natureza local trabalhava secreta e silenciosamente, nos subterrâneos, construindo sigilosamente o futuro de Serra Negra, que voltaria a ter no próprio café uma de suas forças. Mas jamais poderia abrir mão de suas águas minerais.
“Na década de 1930, a água surgiu como redentora da economia serrana. [...] O território é riquíssimo no aspecto de água mineral. De Serra Negra e região vertem águas com propriedades minerais terapêuticas, como a bicarbonatada, a iodada, a radioativa e a água oligomineral” - (De Nanquins e Digitais: A História da Imprensa de Serra Negra, 2015).
E foi por conta disso que o então presidente da República, Washington Luís (1869 - 1957), ainda na esteira do enfrentamento à crise de 1929, declarou Serra Negra como “A Cidade da Saúde”. Alguns anos mais tarde, em 1938, o município foi elevado à categoria de estância hidromineral.
Ainda hoje, as águas serranas são um importante atrativo para quem busca seus benefícios - sejam humanos, animais e até mesmo as plantas. E essa não foi a única variável que fizeram Rodrigo e Portugal optarem por Serra Negra para iniciar o empreendimento.
O dia estava lindo, o anil pintava o céu como poucas vezes naquele ano. O sol iluminava a mente e aquecia o coração. Finalmente, o sonho vai ser realizado. Porém, o que poderia dificultar é que Rodrigo não tinha experiência em montagem de estruturas para estufas. Mas Portugal tinha. Foi quando ele teve a ideia de entrar em contato com um de seus muitos amigos, Cláudio Castro, o Claudião, proprietário da Van Der Hoeven - Estufas Agrícolas, de Holambra, que enviou uma equipe para ajudar na montagem da parte estrutural da empresa que estava nascendo em Serra Negra.
O finalzinho da tarefa dependia de estender a lona plástica sobre as estacas de metal, cobrindo o espaço. Um ligeiro descuido, ao subir a escada; um pequeno detalhe, a furadeira em uma das mãos; um leve erro: a furadeira ligou. Sangue no chão.
“Portugal fez contato com o Claudião, proprietário de uma das maiores empresas de estufa agrícola na Holambra, e que chamou uma equipe para montar as estruturas. No finalzinho da montagem, ele precisava colocar os tirantes, tarefa que deixamos para depois. E a fim de agilizar o serviço, Claudião pediu para um de seus colaboradores começar a cobrir a estrutura por um lado, enquanto ele mesmo cobriria de outro, cada qual com a sua escada, necessária para subir até o topo da estrutura da estufa. Ao posicionar a escada no pé direito da estufa, ele cometeu algum descuido que o fez vir abaixo, escorregando alguns degraus da escada. Porém, ele estava com uma furadeira na mão, e quando ele tentou se segurar, teve a mão esquerda perfurada por uma broca. Ele veio me avisar imediatamente, e eu corri para socorrê-lo, avisando que o levaria até o hospital local. Ele respondeu que não era necessário, que ele mesmo se dirigia até lá, mas apenas para verificar se estava tudo em ordem e, caso fosse necessário, receber a vacina contra tétano. Foi quando ele me falou que voltaria no dia seguinte para continuar o serviço. Vale destacar que aqui não tinha parque ainda, era apenas um descampado. E aqui fora, aquele tempo lindo, aquele azul bonito, mesmo. E eu falei: ‘Tudo bem! Pode voltar amanhã’”.
É difícil acreditar. Mas esta não é uma história sobre morte.
Há algumas décadas, a cidade de Serra Negra era um dos principais destinos para quem desejava comprar roupas de inverno, como couros e malhas. O frio intenso era convidativo para desfrutar de alguns dias de descanso na serra. Atualmente, o aumento na temperatura vem transformando e diversificando a atividade econômica do município. Hoje, a dúvida quanto à realidade do aquecimento global se restringe apenas a quem não se arriscou a abrir uma loja de roupas de inverno na Coronel.
Mas enquanto a variabilidade climática afetou o comércio de roupas, outros empreendedores vislumbraram a possibilidade de enveredar por novos caminhos, aproveitando o novo clima local.
Ao escorregar da escada, Claudião - ele mesmo - acabou perfurando a própria mão. O acidente inviabilizou que o serviço fosse concluído naquele dia. O sangue no chão - algumas gotas - horas mais tarde, seria misturado com todo o resto que viria abaixo. Por ora, bastava ir até o hospital para fazer o curativo e providenciar os cuidados relacionados à possíveis infecções. “Amanhã eu volto para continuar e terminar o serviço”, disse ele antes de partir levantando a poeira que era emoldurada pelo azul cintilante que preenchia o espaço da descampada área verde.
O que é possível mudar em apenas 30 minutos?
- “Eu aposto que ele não conseguiu chegar em Artur Nogueira” - lembra Rodrigo Fernandes.
Que histórias podem ser completamente alteradas num prazo de meia hora?
- “Mudou o tempo. Começou a ventar e a chover torrencialmente”.
Quantos sonhos podem desaparecer enquanto o ponteiro maior dá meia volta no relógio?
- “Efeito dominó. Do jeito que o vento e a chuva bateram na calha da estrutura da estufa recém-levantada (ainda sem os tirantes presos ao chão), tudo foi tombando, um a um, até chegar ao final. Trezentos mil reais jogados no lixo.
Antes mesmo de abrir para visitação pública, os trabalhos no parque se iniciaram com a plantação da rosa vermelha Samourai® (breeder Meiland), originária da França, e que como o próprio parque afirma, é uma flor que tem “destaque na região por sua beleza ímpar, pétalas aveludadas, hastes de pouco espinho e resistente a longas distâncias”: “Quando eu trabalhava em Holambra, os breeders vinham da França para fazer a apresentação de toda a gama de produtos que eles tinham na época, somando mais de 200 variedades, desde as cores amarela, branca, chá, rosa, salmão, entre outras. Eu era o responsável por cuidar desses produtos que vinham de fora do país. Então, eu, que só trabalhava com a rosa vermelha, pedi para o proprietário da empresa que se um dia eu fosse produtor de rosa, escolheria para a minha região a Samourai® - que mais tarde ele cedeu para nós essa variedade, que tem um destaque bem interessante aqui em Serra Negra, desde 2009, quando abrimos o empreendimento. E o meu desejo era mostrar isso para as pessoas, porque é um trabalho manual e muito artesanal, já que não temos máquinas que embalam flores, o que, obviamente, é a proposta de grandes produtores, que têm equipes de mais de 100 trabalhadores, otimizando, assim, o trabalho. Contudo, no nosso caso, somos uma fazenda que, apesar de estar em expansão, atualmente conta com 40 colaboradores trabalhando diretamente, e realizando todas as atividades manualmente, o que nos dá um charme maior, já que cada colaborador, cada pessoa coloca a sua própria delicadeza nessa atividade, na formação do buquê. A cada dia mais buscamos a qualidade do produto, e esse carinho que temos com as flores já transparece para os clientes”.
Seja uma rosa vermelha, seja uma branca ou de qualquer outra coloração, presentear alguém com uma flor é uma enorme demonstração de carinho e respeito por quem a recebe. A preocupação de pensar no presente, a disposição de ir buscá-lo, e a escolha certa a se fazer para cada ocasião, faz da lembrança algo ainda mais especial. Mas pelas características deste tipo de flor, todo esse cuidado só é possível porque uma atenção ainda maior parte dos produtores que, em condições normais, colhem rosas seis vezes ao ano: "Por isso precisamos ter foco no trabalho, uma equipe profissional, condição de solo ideal e também torcer para o clima colaborar. Inclusive, é possível fazer um microclima dentro das estufas, e para isso, todas as manhãs eu busco na internet como estará a posição do tempo naquele dia e ao longo da semana. Procuro informações sobre ventos fortes, chuvas intensas, entre outros dados, a fim de me programar e fazer algo que busque o equilíbrio para a planta, para que ela não sofra tanto esse impacto dessas variações da natureza”. Dia dos Namorados, Dia das Mães e Dia da Mulher são as principais datas para a venda de flores, principalmente as rosas: “Ah, sim! Sem dúvidas. São as mais procuradas”.
E quem não gosta de observar as rosas antes de optar por aquela que será escolhida como presente? Muito mais que uma simples olhadela, o Park Vitrine das Flores considerou a possibilidade de o público vivenciar uma imersão na natureza, com a criação de um jardim de observação com diversas atrações, inúmeros pontos instagramáveis e, claro, uma lojinha para levar as flores para casa.
A ex-esposa - e sócia - que estava em uma reunião em Holambra, chegou e viu o cenário de destruição. Terra arrasada. As palavras proferidas por ela ao companheiro foram mais duras que a própria terra onde o sonho fora derribado. As palavras dele também foram duras. O sonho que ambos construíram juntos feneceu, e fez morrer também um relacionamento de anos. O fruto mais belo daquele amor, Guilherme foi levado junto.
Se o uso dos agrotóxicos ainda é necessário para a conservação das flores, há por parte de Rodrigo Fernandes uma preocupação quanto à sustentabilidade ambiental. E como uma espécie de compensação de pegada ambiental, o parque lança mão de dezenas de itens reciclados ou reaproveitados como parte da estrutura ou como atrativos turístico e fotográfico, incorporando carcaças de veículos, bicicletas antigas e até manequins de lojas para formar um espaço agradável e possibilitar que o visitante passe períodos inteiros aproveitando o cenário: “O espaço está livre o dia todo para o visitante tirar fotografias e buscar suas imaginações nelas. A proposta foi tentar utilizar alguns materiais que, até então, seriam sucatas e que, hoje, trazem essa beleza para dentro do Park Vitrine das Flores”.
E dentro de um desses espaços, uma carcaça de ônibus reutilizada, Rodrigo Fernandes instalou uma loja, com a venda de itens diversos, como lembranças e outros tipos de plantas e flores, e também uma lanchonete conceitual: “Todas as quartas-feiras nós vamos à Holambra para comprar flores diversas para aumentar ainda mais o nosso mix, e oferecer aos visitantes outras opções além das rosas. Dessa forma, as pessoas podem vir aqui e fazer a compra de uma rosa vermelha ou de uma rosa branca, mas também de orquídeas, begônias, kalanchoes (Flor da fortuna) e uma infinidade de variedades de suculentas, formando, assim, um mix de produtos que aumenta ainda mais a beleza do parque. Temos aqui também a lanchonete, que funciona de quarta-feira a sábado, com bebidas, café, bolo e salgados. É algo simples, até mesmo porque não queremos avançar muito nessa proposta, mas esse espaço dá uma segurança para as pessoas virem aqui e se alimentar ou beber uma água, um refrigerante e, claro, passar mais tempo aqui conosco”.
Um local cheio de vida, de cor e que traz alegria e renova a esperança, típica da primavera, é recomendado para absolutamente todas as pessoas, de todas as idades. Aliás, diversas pesquisas acadêmicas associam inúmeras vantagens à saúde quando se há conexão com a natureza.
“Estudos mostram que a exposição à natureza diminui os sintomas de ansiedade e depressão, proporcionando uma sensação de calma e tranquilidade [...] Aumento da felicidade e bem-estar: Passar tempo em ambientes naturais está associado a um aumento dos níveis de satisfação e felicidade, melhorando a qualidade de vida em geral”.
“Nosso convite é para pessoas de todas as idades. Inclusive, desde a gestação, as mamães vêm aqui tirar foto para guardar de recordação, e depois que o filhinho nasce, ela volta para fazer um histórico: a primeira imagem, o momento que ela veio pela primeira vez com o bebê na barriga e, na sequência, quando a criança nasce, registrando imagens no mesmo ponto. Aqui temos um parquinho para as crianças brincarem, balanço, gangorra e escorregador. O convite aí pra todas as idades”, ressalta Rodrigo Fernandes.
E se o espaço é convidativo para visitantes da região e turistas de todo o país, o Park Vitrine das Flores é ainda mais emblemático para o morador de Serra Negra, até porque, o empreendimento provou que o município tem aptidão para incluir outra força no seu cabedal de possibilidades econômicas e turísticas. “Com certeza. A proposta é mostrar a Serra Negra que a região também é propícia para uma cultura de flores, e para que as pessoas tenham essa liberdade de vir aqui e acompanhar todo o nosso trabalho”.
Segundo Fernandes, o número de visitantes serranos ao parque ainda é bastante baixo: “É muito baixo. Eu afirmo a você que não chega a 5%. Acredito que muita gente poderia conhecer o parque e sentir essa emoção aqui. Eu presenciei muitos momentos de emoção aqui e muitos retratos que as pessoas guardam e levam para a vida toda. Vale muito a pena! É como sempre falo: a flor é o alimento da alma”
O parque abre de quarta a sábado, das 9 horas às 17 horas. Os interessados podem adquirir os ingressos na portaria do parque, sem a possibilidade de compras pela internet, e a taxa de visitação é de 15 reais, uma cota única para pessoas acima de 12 anos. Crianças abaixo de 12 anos têm entrada franca, e o estacionamento é gratuito.
E assim como outros locais já referenciados, como o sítio da Família Silotto, o Café Nonno Marchi e o alambique Olivotto, o parque também oferece pé no chão, contato com a natureza, bancos de madeiras e tudo o mais que o Turismo Rural pode oferecer, sendo uma experiência orgânica com o restante do cenário serrano, e possibilitando avistar diversas regiões da cidade, além de outros municípios ao redor: “Quem vive nas metrópoles, mergulhados na correria do dia a dia, muitas das vezes não tem esse privilégio de estar diante da natureza, e ter essa liberdade encontrada aqui no parque de trazer o seu cachorrinho, por exemplo e poder caminhar com ele aqui ao ar livre, sentindo esse fresquinho do ar, numa região de altitude, e vendo os passarinhos. Inclusive, nos preocupamos em mantê-los por perto e, para isso, cuidamos de quais produtos químicos utilizamos na pulverização para não agredir esses animais que também embelezam o parque”.
O Park está localizado a mil metros de altitude em relação ao nível do mar, sendo possível ter uma amplitude de toda a região, com as montanhas de café ao fundo: “Muita gente vem aqui e diz que nunca viu um pé de café. Isso ajuda a proposta do parque, por isso o convite é, de fato, para todas as pessoas de todas as idades. É sempre uma honra receber todo mundo”.
Cinco metros de corda seriam mais que suficientes para se consumar o horrente propósito. Um relacionamento de anos arruinado, um empreendimento literalmente em destroços, e um sonho evaporado. O que mais poderia segurar alguém nessas condições neste plano terrestre? Qual motivo seria suficiente para trazer vida onde só havia a ideia de morte?
“Ela pegou o carro, levou meu filho para Holambra, onde morávamos antes, e eu fiquei aqui, sozinho. Ela foi embora, nos separamos, e aquelas palavras que ela falava para mim, aquelas palavras ruins que entravam em mim, eu acho que tomei aquilo como força e continuei. Mas, logo em seguida eu caí de novo. E nesse momento que eu caí pela segunda vez, foi quando tomei a decisão de… tirar a minha vida, porque eu estava vendo que não tinha mais recurso algum. Eu já tinha feito toda uma programação de colher com seis meses, foi passando sete, oito, nove meses e a roseira ainda não estava colhendo nada. Tínhamos apenas uma área de campo e essa estufa, então, o campo com problema, a estufa no chão e sem produção. Havia apenas um colaborador aqui, que dispensei porque não tinha recursos financeiros para pagar seu salário, enquanto eu fiquei por aqui, trabalhando dia e noite para reconstruir tudo”.
Talvez o remédio para a dor estava há 60 quilômetros de distância, num pai e numa mãe que já haviam salvo o filho da morte uma vez, e que entregariam a vida para vê-lo em segurança uma vez mais. “Que enorme desgosto eu traria para o meu pai. Que decepção! Depois de tudo o que ele me fez, eu não poderia terminar assim”. As cordas acompanharam as lágrimas e, juntas, foram ao chão.
“No momento em que coloquei a corda, eu comecei a chorar muito. E me lembrei dos meus pais, porque aos dez anos de idade, eu sofri um acidente de queimadura, e em nenhum momento minha mãe e meu pai mediram esforços para cuidar do filho de dez anos. E aí eu pensei: ‘imagina o desconforto, o desprezo e o desgosto que eu daria para minha família tirando a minha própria vida’. Tirei a corda, joguei no chão, ganhei força naquele momento e comecei a trabalhar”.
Eu disse que esta não é uma história sobre morte. É sobre recomeços, sobre acreditar e ter esperança. É também sobre ser resiliente e, mesmo que o espinho da rosa da vida venha a te ferir, basta levar o dedo à boca e, com a pureza e a inocência da infância, seguir adiante, tocar a vida.
“Quando eu montei o projeto do parque, muitas pessoas eram contra, e me fizeram refletir sobre seguir com o plano ou não. De repente, chegou aqui uma senhora acompanhada da filha, e me perguntou quem era o dono da fazenda, porque ela queria alguns botões para fazer a harmonização de uma mesa de almoço com a família. Ela se chama Mônica e mora em Amparo-SP. Eu mesmo fiz a recepção dela, e quando fui até à câmara fria para pegar os botões de rosa, havia me esquecido que o pessoal estava fazendo a limpeza dela para receber novos produtos. Voltei e perguntei a ela se poderia ser outra cor, e apresentei uma variedade de campo chamada Ambiance, uma rosa muito bonita, amarela. E eu a convidei para ela mesma fazer essa colheita. Mas a filha me alertou dizendo que sua mamãe não podia fazer isso porque estava limitada com a idade e estava muito fraquinha. Mas a dona Mônica havia escutado meu convite e disse que colheria as flores, sim! Nós a tiramos do carro com muito cuidado, coloquei a luva, o mangote e a tesoura em suas mãos, e ela teve essa experiência no campo. O que mais me chamou atenção foi que, colhendo lá seis botões de rosa, ela fechou esse maço e me mostrou perguntando se eu sabia o que era aquilo, Eu respondi que eram seis botões de rosa amarela. “Não, isso se chama ramalhete”, ela me corrigiu. É, dona Mônica, é verdade. Hoje só falamos em botões ou maços, mas essa palavra, ‘ramalhete’, é muito bonita, e remete ao passado. Ela, então, me pediu para fazer um agradecimento, o que concordei imediatamente: ‘O espaço é todo da senhora’, disse. Então, ela começou: ‘Primeiro, eu quero agradecer por, nessa idade, ter a oportunidade de colher as flores aqui. E também quero agradecer ao único homem da minha vida’. E ela, Ibraim, ela pegou as flores, levantou ao céu e fez um agradecimento a Deus. A parte mais bela da história foi quando ela me contou que seu marido foi um padeiro, que todo dia, no trajeto até chegar em casa, pegava uma flor no caminho, chegava até ela, entregava a flor e dizia que ela era o amor de sua vida. ‘Desde então, não tive nenhum outro homem, nunca mais me casei porque eu jamais encontraria um homem tão bom e tão delicado como ele’, lembrou. Então, o primeiro momento foi a emoção de receber uma senhora com mais de 80 anos aqui no Park, e depois por ela compartilhar comigo essa emoção de colher as próprias flores”, recordou com carinho Rodrigo Fernandes.
Quando algo está escrito para você, mas o cenário ao seu redor só te faz pensar em desistir, de um improviso, a vida te presenteia com sinais quase miraculosos. O roteiro precisa seguir adiante para que as flores sejam lançadas no palco, em reverência. Tudo se encaminha para o clímax da história, num desfecho surpreendente. A vida em si é insistente, e até que os aplausos ressoem, as cortinas não vão se fechar. Um dia depois, um senhor me ligou perguntando se, por acaso, teria algum lugar em que ela poderia colher algumas flores, ao que respondi que sim, que temos aqui uma área de campo para isso, para colher a mesma rosa amarela da primeira história. Eu o convidei a vir aqui, e ele me relatou que sua filha é apaixonada por flores. Esse senhor chegou com a esposa e com uma menininha de 4 aninhos segurando suas mãos, e eu olhava esperando sua filha chegar. Ele me disse: ‘Essa minha filha tem 4 aninhos, ela é uma filha adotiva, que a família toda adotou, e que, desde pequenininha, é apaixonada pelas flores Minha mulher é alfaiate, e ela fez os bonequinhos de pano, todos coloridos, como a Rainha Margarida - feita de pano e com arroz dentro, tudo costurado. Ela colocou no berço dessa criança, e foi assim que ela aprendeu a gostar de flores’, ele me contou a história. Quando me deparei com a criancinha, na sua roupinha havia flores, em sua saia também, e sua sandália tinha detalhes de flores. Eu pensei: ‘Não é possível uma criança de quatro aninhos ser tão apaixonada pelas flores’. Ela me disse que não queria chocolates ou nenhuma outra coisa, mas, sim, ‘colher as minhas flores’. Aqui na montagem da rosa existe uma técnica que começa desde o chute, que é o broto inicial, depois tem o primeiro piso, o segundo e o terceiro pisos e a flor final. Para muitas pessoas com uma idade muito mais avançada que a dela demora uma semana para aprender toda essa técnica. Em poucos minutos passei à pequenina todas as dicas, e ela aprendeu rapidamente algo que muitas pessoas que trabalhavam aqui não aprenderam nem em 15 dias de serviço. Enquanto ela colhia, eu tive a curiosidade de desafiá-la: ‘O que é isso?’, perguntava, ao que ela pontuava para mim: ‘Titio, isso aqui é um filho de chute’. ‘E isso?’, perguntava novamente. ‘Isso aqui é um neto; um chute’, e por aí adiante. Brinquei dizendo que ela devia ser filha de produtor de rosas. E foi assim que eu determinei a minha proposta com as flores, de que não há idade certa para amá-las, indo de 4 até 100 anos de idade. Por isso, reforço o convite para todas as pessoas, desde bebezinhos, ultrapassando os cem anos de vida”.
Portanto, sim, é possível ao visitante acompanhado de um guia do local fazer a colheita das próprias flores. Contudo, para isso, há um cuidado todo especial: “Com o guia junto é possível, sim. Quem quiser ter a experiência de colher a própria flor pode ir acompanhado do nosso guia, que ensina a técnica para a colheita. Não há nenhum risco, as ruas são sempre limpas justamente para as pessoas terem esse conforto durante o passeio e durante a experiência. A única orientação que damos é que o visitante não corte as flores usando apenas as mãos, sem o uso da tesoura, caso contrário elas poderão tanto machucar a si mesmas quanto às rosas, principalmente quando pegam uma haste com muitos espinhos, que podem perfurar a mão”.
Dois anos depois, outra enorme adversidade incitava Rodrigo a desistir. De novo. Uma doença fatal era o prenúncio do fim, e a morte era iminente. Diagnosticadas com a terrível Peronospora sparsa, mais conhecida como Míldio no ramo das flores, as rosas de Rodrigo estavam morrendo. Mas ele, que desde os 10 anos de idade aprendeu a enfrentar as dificuldades como desafios, contou ao pai - sua fortaleza - o que estava ocorrendo. A salvação viria de Israel, de caminhão.
Um produtor de orquídeas holandês muito visionário, que viaja o mundo inteiro, foi para Israel alguns meses antes e fez uma negociação com um adubo com uma tecnologia nova. Quando meu pai contou a ele o caso, ele se sensibilizou com o que tinha acontecido e me doou meio caminhão de adubo. E eu me recordo que ele me orientou a jogar mais que um quilo de adubo por rua. Desesperado e desesperançado, sem rumo e sem o desejo de ficar aqui, não pensei duas vezes: ‘cinco quilos por rua serão suficientes para matar todas as rosas’.
- Rodrigo, você acredita em milagre?
- Muito! O que aconteceu foi um milagre. Não tem outra explicação.
Trinta dias depois da tentativa de assassinato das rosas, Rodrigo viu nascer os primeiros e mais fortes brotinhos de sua mais histórica produção. Enquanto isso, a pouco mais de 100 quilômetros dali, os produtores de Andradas-MG se depararam com uma geada incomum, e viram disparar o preço do botão, de vinte centavos para três reais a haste. Rodrigo tinha em sua posse 342 caixas de rosas vermelhas enormes e saudáveis, que foram comercializadas por todo o país, gerando um lucro de aproximadamente 400 mil reais, 15 vezes acima do valor de mercado.
“Certa feita, Adônis Patriani, um querido amigo da Celeiro Agrícola, também de Holambra, disse-me: ‘Meu caro, tudo é possível quando há vida’”, lembra Rodrigo Fernandes.
Depois do passeio, o descanso merecido para quem vai retornar para casa após passar uns dias no interior. O cheirinho do café especial, trazido de Serra Negra, toma conta da casa logo ao nascer do sol. Enquanto resfria na xícara aguardando o momento ideal para ser degustado, outras tarefas necessitam de atenção, como cuidar das rosas recém-colhidas. E alguns detalhes podem fazer a diferença para as flores terem uma sobrevida maior embelezando o ambiente: “Indicamos às que cortem um centímetro da base da haste todo dia, em formato de bisel (na diagonal), ampliando o espaço de absorção da água do vaso, já que quando é feito o corte reto na haste, há uma restrição na área da haste da flor que está em contato com o vaso, dificultando a absorção dessa água. A água deve ser mineral, filtrada, sem cloro, limpando o recipiente com um papel toalha limpo, retirando impurezas do vaso, e evitando o uso de esponja com resíduo de detergente, que podem comprometer ainda mais o aproveitamento da água pelas flores. Outro fator que deve ser observado é a remoção das folhas que estão em contato com a água, pois, ao apodrecerem, elas possibilitam o surgimento de uma bactéria na água, o que também limita que a flor absorva a água do vaso. Também é importantíssimo não expor essa flor em um ambiente muito quente, ou seja, próxima à janelas abertas e direcionadas para luz direta, tampouco perto de ventiladores, porque o vento é um inimigo natural das flores, ocasionando a murcha mais acelerada do maço. Existem testes que indicam que somente procedendo a troca diária da água, somada a todos esses cuidados de manuseio, as flores têm a capacidade de resistir de sete a dez dias em vaso”. Vale destacar a minha experiência pessoal com o ramalhete da Rosas Alto da Serra: tomando todos os cuidados indicados por Rodrigo Fernandes, minhas rosas alcançaram o impressionante número de dezessete dias de vida.
E é claro que além de muitas fotos, os visitantes vão querer levar para casa uma lembrança cheirosa e de muito valor. Um passeio inesquecível, para guardar na memória e no coração.
E de lá, retornando pela curta estrada de terra, deixamos a poeira para trás e tomamos caminho no asfalto novamente. Atravessamos a cidade pela última vez, e partimos em direção à décima e derradeira experiência desta série. Seguindo pela Rota Turística do Queijo e Vinho, avançamos pela antiga estrada de ferro da Mogiana, hoje a Rodovia Dr. Rubens Pupo Pimentel (SP-105), que liga Serra Negra aos municípios de Amparo e Itapira, na região do Bairro dos Leaes. Ali, onde as paredes são de pedras, os corações são amolecidos. No Sítio São Luiz - Bella Roccia muitas histórias foram contadas, vivências experienciadas e amores selados. Todos eles nos aguardam para fechar o primeiro capítulo deste livro aberto e vasto que é Serra Negra Para os Serranos.
Você pode ouvir essa história, com a entrevista de Rodrigo Fernandes, além de ouvir os próximos episódios da série em:
Edição impressa e no portal online do Jornal O Serrano, na próxima sexta-feira;
Na Rádio Serra Negra: FM 104,5 MHz ou no site da rádio, às sextas-feiras, às 10h (reprise às 20h), clicando aqui;
Canal do Spotify do Jornal O Serrano, clicando aqui;
Em livro*: ainda sem data para publicação.