Ibraim Gustavo
Ibraim Gustavo

Jornalista, pós-graduado em Marketing, MBA em Comunicação e Mídia, e MBA em Empreendedorismo e Inovação. Empreendedor, é sócio-fundador da Freestory – A primeira plataforma do Brasil de autodescrição com storytelling, IA e IoT. Com formação em Profissões do Futuro (O Futuro das Coisas) e no Programa de Capacitação da Nova Economia (Startse). É também músico, escritor, roteirista e storyteller.

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Episódio 10 (Final): Bella Roccia – Tradição Italiana à Moda Brasileira

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Episódio 10 (Final): Bella Roccia – Tradição Italiana à Moda Brasileira
Datada de 1889, casa de pedra e barro recebe serranos e turistas para experiências gastronômicas da cozinha de imigração | Ibraim Gustavo Santos
Episódio 10 (Final): Bella Roccia – Tradição Italiana à Moda Brasileira
Episódio 10 (Final): Bella Roccia – Tradição Italiana à Moda Brasileira
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Episódio 10 (Final): Bella Roccia – Tradição Italiana à Moda Brasileira
Episódio 10 (Final): Bella Roccia – Tradição Italiana à Moda Brasileira

O apito soava bem ao longe e era trazido pelo vento que cortava a serra. Acompanhando o barulho, que crescia a cada segundo, as crianças desciam o morro correndo, brincando para ver quem dentre eles era capaz de chegar mais rápido à estação que o próprio trem. Invariavelmente, os pequenos - que sabe-se lá como - levavam a melhor em relação ao barulhento e pesado comboio de ferro. Eram 9h17 da manhã, e o gole no café quente, e também no vinho, colaborava para fazer descer pela goela o pão amanhecido, receita da própria casa.

Aqueles pequenos eram filhos e netos de gente que deixou o seu lugar e saiu de casa para tentar a vida longe. Bem longe. Imigrantes italianos não foram pessoas que simplesmente tentaram a vida na cidade grande, ou fizeram intercâmbio cultural. A eles não foi permitido fazer estágio na vida. Era ela, a própria, arrostando fixamente seus possuidores, desafiando-os para ver até onde chegariam. Desafio aceito, era hora de embarcar e dizer adeus à terra natal.

Mas essa é uma história que tem seus primórdios há muito tempo. 

Uma travessia de dor, coragem e resistência

“Ao final do terceiro quartel do século XIX, a economia brasileira encontrara um produto que permitiria reintegrá-la nas correntes em expansão do comércio internacional: o café; restava resolver, no entanto, o problema da mão de obra. Lastreada na concepção de que os imigrantes da Europa seriam os únicos capazes de construir uma nação brasileira civilizada e moderna, a solução para a escassez do fator trabalho passou pelo fomento estatal à imigração européia. Se no Brasil o problema era a carência de mão de obra, na Europa, ao longo do século XIX, o que se verificava era um crescimento demográfico sem precedentes que, aliado aos avanços tecnológicos no âmbito da produção e da melhoria dos meios de transporte, punha à disposição do mercado grande excedente de força de trabalho” (Italianos no Brasil: Síntese Histórica e Predileções Territoriais).

Se o Brasil vivia um momento de fartura e grande possibilidade de sucesso, a Europa - e mais especificamente a Itália - atravessavam um momento de escassez e dificuldades. A solução para muitas famílias seria, então, cruzar o oceano para alcançar novos ares, respirar em uma nova terra, e aspirar um futuro de mais sorrisos e menos dor. O Brasil e suas lavouras de café se projetavam como a terra prometida para inúmeras famílias italianas: “A história é mais ou menos assim. Somos descendentes de imigrantes italianos. Minha família, dos dois lados, tanto materna quanto paterna, vieram do norte da Itália, e trouxeram a cultura da produção de vinho, das massas, e da alimentação em geral, plantando tomate e cuidando do cafezal. Meu bisavô, da família Carra, vem de Mântua, enquanto a família de minha mãe, Brolesi e Petroli, veio de Vêneto, Treviso. Meus avós nasceram no Brasil”. Assim como Laércio Carra, produtor rural e empreendedor, atualmente, cerca de 25 milhões de brasileiros são descendentes de italianos, o número aponta 15% de todos os brasileiros como ítalo-descendentes.

“Foi em virtude das tendências populacionais inscritas nesse quadro sociodemográfico europeu que a Itália se integrou, no período 1870/1930, à chamada “grande imigração” para o Brasil e contribuiu para a substituição da mão de obra escrava pela livre no território brasileiro” (Italianos no Brasil: Síntese Histórica e Predileções Territoriais).

Foram muitos os sacos, sacolas e trouxas contendo itens pessoais que, junto com seus donos, atravessaram as turbulentas águas do Oceano Atlântico em uma travessia que levava até quarenta dias para ser completada. Ao abrir esses sacos com pertences pessoais, era possível vislumbrar a nudez da carência, a necessidade e o desespero traduzido em objetos, pois continham mais sementes que roupas, e a explicação era óbvia: era preciso, antes de mais nada, se alimentar para sobreviver além-mar. As plantações de café e outras culturas permitiram o pontapé inicial da estruturação da família Carra na região que futuramente seria conhecida como Circuito das Águas Paulista, sendo Monte Alegre do Sul a primeira parada desses imigrantes pela região: “Quando meus antepassados vieram da Itália, foram, primeiramente, para Monte Alegre do Sul. Essa casa onde estamos é datada de 1889, portanto, agora em 2025 completa 136 anos. Ela foi construída por imigrantes italianos, porque quando chegaram nesta fazenda, por volta de 1885, não havia moradia para eles, e foi preciso morar em senzalas, dividindo o espaço com os africanos já libertos da escravização em Serra Negra. E esses povos, juntos, se adaptaram muito bem, trocando informações e aprendizados, como o uso da mandioca, entre outras coisas. Uma prova disso é o idioma que falamos atualmente, que é uma grande mistura de português, com dialetos africanos e o próprio italiano dos imigrantes. Os italianos aqui somavam, no total, vinte famílias, e construíram vinte casas no período entre a safra do café e assim, todos da família trabalhavam para construir as casas, inclusive as crianças. Uma equipe fazia o alicerce de pedra, com uma sala embaixo para proteger a estrutura da casa, que era a base. Inclusive, as pedras que vemos aqui são as originais usadas por eles para construir, nós apenas reforçamos esse alicerce quando fizemos a reforma neste local. E enquanto construíam, cuidavam do café, e plantavam no quintal, na reta da casa, e foi o que fizeram, porque eles vieram sem nada, trouxeram da Itália apenas a roupa do corpo. No saco que carregavam, havia mais sementes de plantas e estacas de uva que roupas, pois estavam preocupados em sobreviver e comer. Com o tomate, o molho pomodoro estava garantido, e foram as frutas que escolheram plantar: tomates e uvas”.

Carra comenta algumas curiosidades sobre a edificação: “Os tijolos desta casa são todos grandes, e eram assentados com barro, já que não havia cimento. E as telhas, feitas em toras de madeira apoiadas no chão. Existiam também aquelas feitas nas coxas dos escravizados, mas essas, não. Inclusive, há uma delas aqui com o nome da primeira residente e a data: Brigitta Giovannetta, 1889. Sei disso porque quando troquei o telhado da casa durante a reforma, guardei uma das telhas que encontrei aqui com essa inscrição. Antes de ser queimada, quando a telha ainda estava mole no chão, eles escreviam o nome da mulher sorteada para se mudar naquela casa recém-construída”.

Foi quando, segundo Carra, veio a proposta: “Quando veio a crise do café, em 1929, os fazendeiros foram à falência, e o proprietário destas terras avisou aos colonos que estava falido e que não tinha dinheiro para pagar o serviço de mais ninguém. Então, que eles ficassem à vontade para ir embora, caso quisessem, porém, quem tivesse o desejo de continuar morando ali, era bem-vindo. Para ele, o ideal era esperar para ver se aquela crise iria passar, e só de ter um lugar para morar e comida para comer, eles já estavam no lucro. E foi assim que eles começaram a ampliar o plantio de tomate”.

O ofício de plantar frutas diversas, incluindo a uva, foi tomado pela família do sr. Laércio:  “Depois que viemos para esse sítio, começamos a trabalhar com manga, lichia e frutas em geral, vendendo para o CEASA, em feiras e supermercados da cidade e da região. Aliás, somos pioneiros na região com diversas variedades de manga, como a Tommy, a Haden, a Palmer, trabalhando com essas frutas desde a década de 1970. Um tempo depois, ampliamos a produção para fazermos vinho, cachaças e doces com a Bella Roccia. Utilizamos as frutas daqui da propriedade para fazer os doces e as geleias que vendemos aqui. Nos anos 1990, meus dois irmãos e eu compramos uma parte das terras, que é o Sítio São Luiz, e posteriormente, dividimos a área, ficando cada um com uma parte, e nós aqui, cuidamos das frutas, que ainda são o nosso forte”.

A fruta de ouro e o ouro verde se entrelaçam na história

Vindo da Bolonha, Alberto Bonfiglioli fez história no novo país ao fundar uma das maiores empresas do ramo alimentício do Brasil. “Membro de uma das mais importantes famílias de Bolonha, iniciou sua vida no Brasil aos 13 anos [...] foi empresário, banqueiro, diretor-presidente e principal acionista do Banco Auxiliar, da Companhia Comissária Alberto Bonfiglioli, da Agropecuária Bonfiglioli e da Construtora Bonfiglioli, além de diretor-tesoureiro do Circolo Italiano, secretário da Sociedade Dante Alighieri, diretor da Associação Comercial de São Paulo, diretor da FIESP, conselheiro da Muse Italiche e vice-presidente da Sociedade Esportiva Palmeiras”.

Mas não foi com nenhum desses empreendimentos que o ítalo-brasileiro ficou conhecido. Na verdade, foi regressando às origens que Bonfiglioli alcançou o maior sucesso na carreira: “A empreitada que fez Alberto Bonfiglioli ficar mais conhecido no Brasil foi mesmo a fundação da Companhia Industrial de Conservas Alimentícias (CICA), na cidade de Jundiaí, no interior de São Paulo. Tudo por causa do produto mais famoso da marca, o extrato de tomate Elefante, que durante décadas esteve presente na vida dos consumidores brasileiros”.

Muita gente ainda acredita que o vinho e o café foram as únicas culturas sob a responsabilidade das famílias italianas. A verdade é que graças ao tomate, conhecido como o Pomo D’oro - ou , a maçã de ouro - dezenas de famílias italianas e seus descendentes subsistiram no interior paulista, construíram suas famílias e fizeram história. 

“Os primeiros tomates tinham o formato de maçã e apresentavam coloração amarela, o que fez o médico italiano e botânico Pietro Andrea Mattioli nomeá-lo de pomo d’oro ou ‘maçã de ouro’. Os italianos foram os grandes divulgadores do cultivo do fruto nos países para onde migraram, a exemplo do Brasil, que conheceu a hortaliça no século XIX” (Comunitá Italiana).

A história com os antepassados de Laércio Carra não foi diferente: “O trem da Mogiana passava ali embaixo, onde hoje é a Estrada SP-105. Era um trem que transportava tanto café quanto passageiros. Porém, já não tinha nenhum dos dois, ou muito pouco, sendo transportado naquela época. Então, como uma forma de tentar superar a crise do café, os imigrantes passaram a embalar e vender tomate. Alguém, que não se sabe exatamente quem, agenciou esse negócio, vendendo o tomate da região para grandes empresas. Os italianos embalavam o tomate em cesta de bambu que, aliás, era a salvação dessa gente, havia bambu para todo lado e era utilizado para todos os fins. Então, quando o trem parava na fazenda, os vagões eram carregados de tomates, que partiam para Amparo, onde trocava de vagão, seguia para Campinas e, de lá, a Jundiaí, sendo vendido para a CICA. Foi aí o auge dessa empresa, trabalhando com o tomate de Serra Negra e da região. Até hoje existem grandes tomateiros por aqui, como o próprio pai do meu genro, que ainda planta tomate. Aqui ao lado, o Bairro dos Leaes é o que mais se planta tomate até os dias de hoje, fazendo de Serra Negra um verdadeiro polo tomateiro, e tudo por conta das famílias italianas. E percebendo o capricho e a potência desses produtores na plantação de tomate, a CICA investiu nas fazendas para plantarem também goiaba. A goiabada da CICA ficou mundialmente conhecida, exportando em lata para o mundo inteiro. E atualmente, basta andar pelas estradas da região para ver quantos pés de goiaba existem por todo lado, é como uma praga. E com tomate e goiaba, em 10 anos, os imigrantes compraram a fazenda, que tinha ido à leilão. E o que aconteceu na colônia aqui? Vinte famílias diferentes, que começaram a casar entre si, e gerar filhos. Com o crescimento das famílias, os descendentes foram ficando por aqui mesmo, e conforme os mais velhos morriam, a propriedade foi dividida em fazendas menores, depois em sítios, e foi quando meu pai, que já em Monte Alegre trabalhava com hortaliças e com agricultura, comprou uma parte, em 1970 de um desses herdeiros das famílias Cattini, Padula, entre outras”.

O segredo do vinho

Mas além do tomate e das frutas in natura, o vinho também sempre esteve presente no cotidiano da família Carra, e desde muito novo, Laércio sabe bem como preparar e como identificar um bom vinho: “A minha história com o vinho começa com a minha mãe, que sempre fez vinho com o pai dela. Em 1973, quando eu tinha dez anos de idade, nós começamos a produzir a bebida - e eu bebia um pouco de vinho também, com certeza, né?! (risos). Iniciamos a produção com o método natural, como é feito até hoje. Morávamos ainda no sítio ao lado, o Bom Retiro, onde tínhamos uva plantada, e fazíamos vinho para consumo próprio, e o que sobrava, vendíamos para os vizinhos, parentes e amigos. Só mais tarde surgiu a ideia de aumentar a produção”. 

Ainda em meio às sombras, o primeiro carro atravessa a porteira azul ladeada por baixas colunas brancas. Dali, já é possível avistar a casa de pedras que se projeta a poucos metros acima do olhar. Enquanto procura um local para estacionar, o visitante pode ver a poeira se levantar na estrada de terra da propriedade pela qual ele mesmo acabou de passar. São o segundo e o terceiro carros que se aproximam para se juntar ao condutor do primeiro, que agora ajusta as roupas e saca o celular para fazer os registros iniciais de uma tarde que trará muito conhecimento em uma imersão pelo mundo do vinho por quem mais entende do ofício e tem o desejo de transmiti-lo a outras pessoas: “Em 2010, eu saí do sítio Bom Retiro com a minha família, esposa e filhos, e me mudei para esse local, que é o sítio São Luiz. Quando minhas filhas casaram, os dois gênios vieram morar aqui também, e passaram a trabalhar no sítio. Juntos, aumentamos a produção das frutas, de vinho e de doces. E como minhas filhas precisavam trabalhar, surgiu a ideia de fazer as massas. Tudo começou com os cursos de degustação e harmonização de massas e vinhos que ofertamos aqui, ampliando depois para uma noite de massas. Mas até então era algo mais fechado, familiar, com a necessidade de se fazer reserva. Minha mãe ajudava naquela época ainda. O curso tinha início às duas horas da tarde, e encerrava com o jantar com massas ou pizza”.

O curso, ministrado por Laércio Carra e sua família, versava sobre a história do vinho, sua produção e as possíveis harmonizações a partir da bebida: “O curso acontecia na área externa da minha casa, pois ainda não tínhamos esse espaço reformado. Ensinávamos sobre o que é o vinho, sua história, como ele é feito, entre outras coisas. A maravilha da uva, da videira - a vida - até chegar à garrafa é algo divino, e que muitos ainda não conhecem. É um curso básico e introdutório, com aulas práticas e teóricas, apostila e certificado. Depois de duas semanas do fim do curso, os grupos que tinham participado, que girava em torno de 15 pessoas, entravam em contato conosco para perguntar se não poderíamos ministrar outro curso, ‘mas sem o lado teórico, só as massas e o vinho, entendeu?’, diziam eles (risos)” 

Conforme o tempo foi passando e o público crescendo, Laércio Carra e sua família perceberam que era hora de abrir as portas ao público, oferecendo mais oportunidades para serranos e turistas fazerem parte do dia a dia da sua casa, agora com outras possibilidades gastronômicas: “Esse pessoal que vinha em 15 pessoas, começou a trazer mais gente. Enquanto atendíamos a elas, outras quinze ou vinte ficavam de fora. Precisamos ampliar, pensei. Fizemos, então, a primeira parte de pedra, entre 2017 e 2018, e depois a outra parte, há três anos”.

Os primórdios do Turismo Rural em Serra Negra

O asfalto novo é flanqueado por extensas áreas de mato verde, intercaladas por riachos e montanhas, muitas delas ocupadas pelo gado que pasta suavemente nas sombras de árvores centenárias. Conforme o condutor vai ganhando a pista, mais e mais ele se aproxima de alguma região onde o asfalto cederá lugar para a terra, e o mato, vez ou outra, dá lugar a alguma cultura específica. Por essas bandas, geralmente é o café quem dá as caras em seus intermináveis pés nos sítios e fazendas das encostas serranas.

Uma porteira aqui, uma ponte de madeira ali, uma casinha acolá, e enquanto o carro avança, o cheiro de relva faz dueto com o cantarolar dos pássaros que colorem o ar. O sorriso no rosto marcado faz menção aos anos muito bem vividos pelo seu portador. Anos que foram também muito agredidos pelo sol, mas mesmo assim, incapaz de apagar a beleza rústica destes olhares faceiros.

Quem envereda pelos rincões de Serra Negra atualmente se depara com uma realidade assaz distinta da encontrada há alguns anos. O caminho que leva às rotas rurais é repleto de surpresas que vão se revelando aos poucos, como capelinhas, antigas estações de trem, plantações e riachos que ornamentam o trajeto do peregrino. Além disso, hoje em dia, as propriedades dispõem de cafeterias, lojas, alambiques, restaurantes, estacionamento e incontáveis espaços instagramáveis, naturais ou não. Elas estão também equipadas com toda sorte de recursos para bem receber famílias inteiras, como espaço kids, Internet e wi-fi. Aliás, é justamente na zona rural que encontramos alguns dos perfis serranos mais famosos e com maior número de seguidores nas redes sociais. Mas nem sempre foi assim.

No Sítio São Luiz - Bella Roccia, as frutas ainda hoje seguem como o carro-chefe da atividade laboral dos residentes no sítio e principal fonte de renda da família. Nesse mesmo sentido, as uvas foram agregadas como parte das frutas produzidas ali mas rendeu muito além do que fora estabelecido anteriormente: a uva, como fruta, é transformada em vinho; o vinho se transforma em curso, que traz a oportunidade de a família trabalhar com a produção de massas, e toda essa cadeia de acontecimentos se amplia a ponto de essa estrutura se transformar naquilo que o visitante conhece hoje da propriedade por meio do Turismo Rural: “Não existia Turismo Rural em Serra Negra. E eu me lembro que estávamos numa época de frio, férias de inverno de 1997, e meu irmão caçula, chamado Dárcio, e eu trabalhávamos na feira. E num determinado dia estava frio e chovendo, e era impossível sair do caminhão para vender as frutas. Passamos a madrugada inteira, a manhã toda ali, e nada. Quando era mais ou menos 10 horas da manhã, o tempo abriu e a chuva parou, mas, como não tinha mais como fazer a feira naquele dia, decidimos ir embora para casa, e vender as frutas somente no dia seguinte, em mercados ou no CEASA. Mas para atravessar Serra Negra, da feira à região da rodoviária, levamos 40 minutos, porque a rua estava repleta de turistas, cheia de gente, o trânsito caótico. Ao olhar todo aquele movimento, disse ao meu irmão que se conseguíssemos levar 1% de todas aquelas pessoas no sítio, era possível vender todas as frutas que tínhamos ali, e ainda oferecer a elas uma experiência diferenciada, de colher a fruta direto do pé e consumir ali mesmo, além de vender o vinho e a cachaça que já produzimos também, agregando tudo isso durante a visita. Assim, nós não precisaríamos mais acordar cedo e enfrentar dias de chuva como aquele para vender. Meu irmão achou que eu estava louco, que as pessoas não iriam querer ir até lá, dirigindo por 9 quilômetros em estrada de terra que, na época, nem era bem cuidada, entre outros pontos negativos. ‘Nós mesmo podemos cuidar da estrada, a gente arruma por conta’, eu disse a ele. Bem, fiquei um mês pensando naquilo, em como iria colocar aquela ideia para funcionar. Enquanto isso, paralelamente, seguia colhendo as frutas, cortando cana e produzindo cachaça. Minha ideia foi conversar no Sindicato Rural de Serra Negra, então gerido pelo Aziz Padula, que comentou que existiam no município empreendimentos de fazenda rural, hotel-fazenda, mas que não era a mesma coisa que eu queria montar no sítio, e que ele sequer conhecia esse conceito, mas que indicaria uma pessoa com quem eu pudesse conversar e que, talvez, poderia me ajudar. A Valéria Gerb, que trabalhava no Serviço Autônomo de Água e Esgotos (SAAE) de Amparo-SP, que não tinha uma ligação muito precisa com o assunto, mas tinha uma veia nesse tipo de negócio. Entrei em contato com ela, explicando minha ideia, e ela e mais uma amiga vieram à propriedade fazer uma visita. Elas ficaram encantadas com o lugar, ficaram três horas aqui e elogiaram nossas plantações e a explicação que eu dei durante a visita delas. Ao sair, ela me recomendou que eu reunisse cinco produtores do município para uma segunda reunião, já que, se ficasse sozinho, ela não conseguiria dar continuidade no assunto. Aí eu comecei a andar, né?! Falei com a Dona Sueli, da Fazenda Chapadão, que já produzia queijo, e também com outras pessoas, como o Ricardo Schiavinato, do outro lado da cidade, na Fazenda Sula - Nata da Serra, com o Neno Silotto, da Família Silotto, entre outros. O próprio Neno já estava bem encaminhado no vinho, mas perdido em relação à como comercializar a bebida, perguntei se ele não queria entrar comigo na ideia, mesmo que não seguisse em frente depois, mas pelo menos para essa reunião, para começar o projeto. Eu já tinha a ideia de criar algo como a rota do queijo, ou das frutas. Conseguimos reunir alguns empreendedores, e a Valéria Gerb começou a montar o projeto e iria apresentá-lo no sítio de um dos participantes. Reuni alguns produtos de cada sítio, e fizemos a reunião com todos no Sítio Bom Retiro, onde tudo começou”.

Alguns dos melhores queijos do planeta não apenas custam muito caro, bem como não são fáceis de serem encontrados. Muita gente atravessa o Atlântico para ter a breve experiência de provar um deles ao menos uma vez na vida. Bem, já indicamos que isso não é necessário, já que Serra Negra produz alguns dos melhores queijos do país, autorais e orgânicos, na Fazenda Sula - Nata da Serra.

E ali não é o único lugar, já que a região toda possui grandes mestres-queijeiros, com habilidade para entregar ao público consumidor produtos de excelência, que suscitam inveja em produtores franceses, suíços e holandeses, mesmo que o próprio produtor não saiba disso. Aí, é preciso dar uma mãozinha para ele - ou ela, no caso - perceber o que tem em mãos: Eu peguei um queijo meia cura da dona Sueli, cheguei em casa e cortei as beiradas do queijo, deixando-o quadrado. Mergulhei-o no azeite, e os pedacinhos que sobraram do corte, fiz uma mistura de azeite, chimichurri e urucum, curtindo por uma semana. Peguei pães de outro produtor, cachaça de outro, os nossos vinhos e, no dia da reunião, dispus tudo sobre a mesa. No dia da reunião, as pessoas acharam estranho o formato do queijo quadrado, e eu dizia que era importado. Todos comeram, se deliciaram, harmonizam com os vinhos, comentavam sobre as notas aromáticas e de sabor do queijo, e a própria dona Sueli amou o sabor. Quando eu revelei que era o queijo que ela mesma tinha feito, ela nem acreditou que pudesse produzir algo tão bom, e que, ainda assim, era possível melhorar ainda mais. Eu mesmo fazia queijo, porque uma das minhas filhas trabalhou com ela por dois anos, e aprendeu muito do ofício, produzindo queijo parmesão, trançado no vinho, entre outros”. Após reunir a todos, era hora de decidir o nome da rota, e como o local é um verdadeiro vale, ideias como Vale das Frutas ou Vale do Queijo vieram à mente: “Como servimos queijo e vinho e ambos os alimentos harmonizam entre si, nessa conversa ficou definido que seria a Rota do Queijo e Vinho”.

Criada a Rota do Queijo e Vinho, o segundo passo foi a profissionalização dos empreendimentos, seus proprietários e colaboradores, a fim de entregar uma experiência real e completa para os turistas. Cursos, workshops, palestras e treinamentos foram realizados ao longo de anos para tornar o sonho em uma realidade concreta e possível de ser divulgada: “Não foi de repente que toda essa costura surtiu efeito. Ao contrário, levou alguns anos até que tudo isso se tornasse realidade para os empreendedores, entre 1998 e 1999. O Sindicato Rural trouxe cursos para fazermos, aulas e diversos ensinamentos sobre como receber e atender ao turista, quais são os seus desejos e as suas intenções, e o que ele busca quando faz turismo. Então, iniciamos o processo de divulgação das rotas, mas a prefeitura também não tinha noção de como fazer a divulgação, e sequer viam o negócio como nós víamos, o potencial que tinha e a forma como gostaríamos de trabalhar. Fizemos, então, um acordo com uma gráfica para produzir um livreto, custeado por patrocinadores, comerciantes que tinham loja no centro da cidade, e que esse livreto seria distribuído nos pedágios da região, a condutores que estavam vindo à Serra Negra. O material de divulgação continha o endereço das lojas e tudo o que elas tinham, além das informações sobre as rotas turísticas de Serra Negra. E o pessoal vinha pela estrada de terra, mesmo. Alguns reclamavam, mas outros gostavam, diziam que voltariam a São Paulo com o carro sujo de terra e lama para mostrar a todos que eles haviam caminhado no meio do mato e na terra. E quando o prefeito Paulo Schachetti assumiu, junto com o novo secretário de Turismo, Idenir Perondini, aí o negócio bombou, porque eles investiram muito nisso, divulgando em diversos veículos de comunicação, como na EPTV Campinas”.

Se nas prateleiras dos supermercados elas já são belas e cheirosas, imagina comer lichia, manga e uva direto do pé. Essa é uma das vivências que o Sítio São Luiz proporciona aos visitantes: “E eu quero fazer isso com uva também, futuramente. Mas, por enquanto, só temos a opção de colher e comer ali mesmo. Ainda não é possível fazer uma colheita grande para levar embora, não temos essa produção ainda, porque se trata de uma uva própria para isso. Mas para o visitante degustar, ele será sempre bem-vindo. Ver um pé de lichia que dá justamente no final do ano é uma maravilha, parece uma árvore de Natal. E aqui chega a dar até 200 quilos num único pé de lichia, é lindo! E tem outra coisa: é orgânica, né? Quer dizer, não temos o selo, e eu até brinco com o pessoal chamando de ‘Lárgânico’, porque você ‘larga’ no mato e deixa o bicho comer. É natural. Inclusive, no início da safra, é possível encontrar uns bichinhos nas frutas, mas já no meio da safra não tem mais, as frutas caem no chão e o boi come essa fruta, eliminando depois no pomar, que é livre, num método natural de produção. Ou seja, apesar de não ser o nosso foco principal aqui do sítio, dá para fazer essa visita também. Quem quiser, pode entrar em contato, agendar e subir lá para comer, mas tem que ir a pé (risos). Algumas pessoas sobem lá de bicicleta, até tem um casal que vem aqui toda vez, leva uma garrafinha de água, uma faquinha para cortar a fruta e chupar ali na sombra. Passa o dia todo lá em cima, no mato”, revela Laércio.

A Noite da Pizza

Enquanto o mundo seguia vazio e silencioso em um de seus momentos mais tenebrosos da história, dentro do pequeno quarto de chão de madeira do apartamento 21 do Edifício Artigas, no Jardim Yara, um casal, isolado, sonhava com o retorno das atividades para voltar a celebrar a vida, viver os momentos e brindar as conquistas grandes e pequenas. A pausa na agenda intensa de trabalho e estudos que tomou conta do isolamento social na pandemia de Covid-19 foi acompanhada de um suspiro. Quando é que tudo vai voltar ao normal? Será que as coisas serão como antes? Poderemos nos reunir novamente?

Enquanto essas elucubrações rondavam a mente, uma publicação no Instagram mostrava uma suculenta pizza caseira que aparentava ser não apenas bela, mas cheirosa e saborosa. O desejo de provar crescia a cada nova fotografia, e a fome aumentava gradual e paralelamente.

Depois de meses dentro de casa, os dias já se confundiam, e a função do calendário era praticamente nula. Sexta, sábado, domingo ou segunda-feira? Era quase um “tanto faz”, já que a impossibilidade de sair de casa impedia a elaboração de grandes e distantes planos. As semanas iam passando sem dar notícias acerca de quando tudo aquilo iria terminar. Foram horas longas, meses intermináveis, no escuro. Nem especialistas e muito menos a mídia sabia para onde estávamos indo, e quando aquilo iria acabar. Se é que um dia acabaria.

A flexibilização das medidas de segurança, as famosas aberturas esporádicas ao longo do ano, aliviavam a mente por algum instante, mas traziam novas preocupações em relação ao crescimento no número de casos de infecção por Covid-19, o que fazia com que muita gente ainda se mantivesse isolada ou, quando muito, se permitindo frequentar locais com número reduzido de pessoas, usando máscara e mantendo o distanciamento social.

Em uma dessas aberturas, após mais de seis meses confinado, o casal do Artigas 21 resolveu dar os primeiros passos em direção à uma normalidade controlada e possível. A zona rural de Serra Negra foi o endereço escolhido, e não aleatoriamente. A intenção era evitar aglomeração e locais que pudessem reunir muita gente ao mesmo tempo, e de preferência vivências ao ar livre. E foi assim que num domingo à tarde, eles tomaram o rumo da Rota Turística do Queijo e Vinho, nas proximidades do Bairro dos Leaes, em direção ao Sítio São Luiz - Bella Roccia pela primeira vez.

Recebidos pelo sr. Laércio, um homem branco, magro e sempre de boina na cabeça, com ares de italiano e um sorriso brasileiro, sentiram-se em casa. Aquela visita, que era apenas para refrescar a mente aprisionada no pequeno apartamento por meses, desdobrou-se em outras conversas. Laércio Carra levou ambos para conhecer a estrutura do sítio, especialmente da casa de pedra, do parreiral, da lojinha e da adega de barro. Além desses ambientes, a propriedade exalta as histórias serrana, brasileira e italiana no pequeno museu que existe logo na entrada da casa. Ali, o coração disparou: sobre a estante, um antigo telefone preto de disco repousava solenemente, e trazia numa etiqueta a inscrição: “Este telefone pertenceu a Nelson Menegatti”. Os olhos cintilaram, encheram-se de lágrimas e a garganta apertou. O suspiro de uma voz abafada que quase não emitia som conseguiu apenas declarar: “Era do meu avô”. Sim. Amigos traziam seus pertences e de familiares para serem expostos naquele local sagrado da história da imigração. E um desses objetos era o telefone de Nelson Menegatti. O presente, entregue pelo filho do amigo, frequentador do local, trouxe inúmeras lembranças, e foi a partir dele que nasceu o convite: “Sim, seu tio vem aqui na Noite da Pizza, ele é nosso cliente”, disse Laércio. “Noite da Pizza?”. “Sim”, respondeu ele, “costumamos fazer um rodízio com massas frescas preparadas por nós mesmos, com receitas da família e ingredientes colhidos aqui no sítio. É um rodízio diferente, intimista, com poucas pessoas, até porque, temos poucas mesas aqui. Venham participar qualquer dia desses”. Ele convidou, e, sim! Nós fomos.

A Noite da Pizza começou assim: Ainda não tínhamos um espaço adequado como temos hoje, com cozinha industrial, ambiente todo azulejado e preparado. Foi preciso reformar  o espaço e adaptar para receber o público. Optamos, então, por fazer as pizzas porque era mais fácil que qualquer outra massa, pois bastava fazer tudo em casa, e trazer para cá apenas para estender, montar, assar e servir. De outra forma, com outro tipo de massa, dificultaria muito a logística, e para fazer mal feito, era melhor não fazer. Iniciamos esse processo em 2017. Aí, veio a pandemia. ‘Estamos perdidos’, pensei. Porém, as pessoas que frequentavam o local perguntou se não existia a possibilidade de fazer as pizzas para entrega ou retirada, e assar em casa. Fomos até à Vigilância Sanitária, que nos informou a maneira correta e segura de trabalhar naquele período, com máquina de cartão, sem movimentar dinheiro físico em cédulas, além de recomendações como utilizar luvas, máscaras e álcool em gel, e não entrar na casa da pessoa, tomando todos os cuidados possíveis para não nos contaminarmos. Deu certo. Fazíamos a pizza aqui, e as pessoas assavam em casa”.

E foi assim que muita gente conheceu a Bella Roccia, a partir de uma intensa campanha nas redes sociais promovida pelos membros da família, divulgando a possibilidade de comprar as pizzas para assar em casa, enquanto a pandemia não dava trégua: Ah! Deu medo, mas não perdemos a esperança e a fé. Você tem que ter fé, falar com Deus, que Ele vai ajudar e nós vamos conseguir. E, olha, como eu tenho vinho envelhecido guardado, comecei a beber tudo (risos), pensando que se eu morresse, morreria feliz. Eu bebi muitos vinhos velhos, mas sobrou bastante ainda. E sei de gente que fez o mesmo, quem tinha cachaça envelhecida, Cognac, bebeu. Não vai ficar aí, não! (risos). Conforme o tempo foi passando, o pessoal que vinha aqui dizia que quando as atividades voltassem ao normal e o salão reabrisse, eles voltariam também. E fo exatamente o que aconteceu: todo mundo quis voltar e não conseguíamos mas atender a todos. Foi quando precisamos ampliar novamente, criando outro salão e aumentando a cozinha também. Estamos, até hoje, trabalhando do mesmo jeito, com as massas fresquinhas, os ingredientes da região, embutidos, queijos regionais, tanto de Serra Negra, como o Nata da Serra e o Alvorada da Serra, como de Amparo, o Atalaia. E mantivemos o processo como era feito antigamente, o tipo do molho, e é isso que o pessoal gosta”.

Na alta temporada, além dos finais de semana, os fãs podem se preparar porque o local abre as portas também às sextas-feiras. Grupos de empresas, familiares e amigos também podem reservar o local para celebrar e almoçar ou jantar ali. Atualmente, o restaurante abre as portas aos finais de semana, aos sábados no horário do almoço e com a tradicional Noite da Pizza, e aos domingos no almoço, com massas e outras iguarias típicas daquilo que Laércio Carra chama de cozinha de imigração.

Sim

22 de dezembro de 2021, era uma quarta-feira, à tarde. E chovia. Depois de 18 meses e dois dias, o sonho, furtado pela pandemia de Coronavírus, estava prestes a se realizar. Tudo estava planejado, o espaço completamente arrumado, e os convidados se preparavam para pegar a estrada e participar de uma cerimônia que selaria o início de uma nova etapa na vida de ambos, mas a sequência de uma cumplicidade que resolveram juntos construir. Depois daquela tarde de domingo, o Sìtio São Luiz Bella Roccia ganhou um espaço especial no coração daquele casal, que, impedido de se casarem em junho de 2020, resolveu selar o seu amor em um local que, a partir de então, faria parte de suas vidas e jamais delas sairia.

Aos poucos, a chuva foi dando lugar aos tímidos raios de sol, que lutavam para sair de entre as nuvens ainda carregadas. No apartamento 21 do Artigas, pétalas de rosas eram dispostas no chão e na cama, aguardando pelos dois para a noite de núpcias. A 13 quilômetros dali, o saxofone suavemente entoava as notas de “Perfect”, do compositor britânico Ed Sheeran para a entrada da noiva. Sorrisos e choros se misturavam enquanto ela se aproximava do altar improvisado embaixo de uma videira. O cair da tarde era magnífico e dourado, ainda mais belo que o daquele primeiro domingo. Ou eram seus corações que estavam entrelaçados demais para perceber qualquer contrário.

O “Sim” foi pronunciado com tanta convicção que exalava o perfume do amor em suas vozes, doces e calmas. O jantar, como não poderia ser diferente, foi um belíssimo rodízio de pizza ao lado de pouquíssimos convivas, acompanhado por suco de uva, vinho e sorvetes da casa.

Um ano e meio depois, o casal retornava, agora acompanhado por um ser ainda em formação dentro do ventre, para o ensaio fotográfico de gestante. Ali, aconchegada, a pequena já podia sentir quão especial era aquele lugar para seus pais.

Ao longo dos anos, o Sítio São Luiz Bella Roccia fez parte da história de inúmeras famílias que ali tiveram início. Pedidos de namoro, casamentos, amizades, ensaios fotográficos, experiências, vivências. O local é, definitivamente, propício para inúmeros fins. Não é apenas comida e bebida. Nunca foi. É união, é laço, é mesa, e comunhão.

E esse desejo de estar junto, de compartilhar saberes e existências, esse ímpeto foi o que moveu este autor a rabiscar as linhas que narram essas histórias. Serra Negra precisa ser mostrada e conhecida, apreciada e amada, especialmente pelos seus, que a acolheram, e que foram acolhidos por ela. Serra Negra é para todos. É para aqueles que querem comungar vivências e dividir o pão, o café, o vinho, a cachaça, os queijos, as rosas. Vista do alto, penetrando em suas trilhas, ou desfrutando dela em plena aventura; resgatando o seu passado - por vezes inglório - e valorizando o seu presente. A cidade existe para sermos juntos nela, porque além de bem receber seus visitantes, Serra Negra é Para os Serranos.

Você pode ouvir essa história, com a entrevista de Laércio Carra, além de todos os demais episódios já publicados nessa série em:

Portal online do Jornal O Serrano;
Rádio Serra Negra: FM 104,5 MHz ou no site da rádio, nesta sexta-feira, às 20h, clicando aqui;
Em livro*: ainda sem data para publicação.

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