Henrique Vieira Filho
Henrique Vieira Filho

Henrique Vieira Filho é jornalista, escritor, terapeuta, sociólogo, artista plástico, agente cultural, diretor de arte, produtor audiovisual, educador físico, professor de artes visuais, pós-graduado em psicanálise e perícia técnica de obras de arte.

Colunas

A Constituição Trancada: O Dia em que Fui Interrogado na Biblioteca!

Você acredita que já fui interrogado na Biblioteca Mário de Andrade por querer estudar a Constituição? Eu conto essa história na crônica da semana, celebrando o reconhecimento da ReArte - Residência Artística como Biblioteca SisEB. Aqui na ReArte, o livro será livre! #BibliotecaReArte #SisEB #PontoMIS #Humor #HistoriaDasBibliotecas #MárioDeAndrade #CulturaAcessivel #SerraNegra

Compartilhe:
A Constituição Trancada: O Dia em que Fui Interrogado na Biblioteca!
Biblioteca SurReArte - Ilustração: Henrique Vieira Filho

A ReArte está ficando tão chique que até eu perco o fôlego. Agora somos Ponto de Cultura, Museu (via IBRAM), Ponto MIS (uma espécie de "filial" do Museu da Imagem e do Som com cinema de graça) e, cereja do bolo burocrático, também somos reconhecidos como Biblioteca pelo SisEB (Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas de São Paulo)!

Claro que a ideia de ser o novo cinema da cidade é mais sedutora. "Biblioteca" ainda carrega aquela fama antiga, meio empoeirada, da qual museus e bibliotecas lutam para se livrar. Mas a proposta moderna é exatamente essa: transformar o depósito de livros em um turbilhão de atividades lúdicas, interativas e muito atraentes.

O próprio nome nos leva a uma viagem de 4.600 anos. "Biblioteca" vem do grego biblion (papiro) e theke (depósito). Éramos um repositório de papiro fenícia, depois um centro de saber helenístico como a lendária Alexandria, e, na Idade Média, um scriptorium beneditino. No século XIX, com Gutenberg, viramos espaços de leitura coletiva e hoje, voilà, incorporamos mídias digitais e viramos Ponto MIS.

A fama antiga era tão forte que, na literatura e nas lendas, bibliotecas eram sinônimos de mistério e até de assombração. Fantasmas de ex-librários vagam pela Yale, espectros medievais na Escócia, e a destruição da Biblioteca de Alexandria é um mito de perda irrecuperável. Fico até pensando se, na era digital, existe um vírus fantasma assombrando os acervos de internet dessas instituições... o mistério do download corrompido!

Enfim, eu tenho experiências bem interessantes nestes ambientes, onde os livros foram, por muito tempo, meus únicos amigos. Na juventude, meu programa de final de semana era "tour" em biblioteca pública e garimpo em sebos, explorando cada prateleira como se fosse um mapa do tesouro. Mas, nem todos os momentos foram assim tão agradáveis. Preparem-se para este causo:

O primeiro interrogatório formal a que fui submetido aconteceu, pasmem, na Biblioteca Mário de Andrade, uma das mais conceituadas do país!

Eram tempos sombrios da política nacional e eu estava lá para estudar a Constituição Brasileira. Meu objetivo não era iniciar uma revolução, mas sim responder às provas do curso de detetive particular (como diz minha esposa: "meu marido tem mil empregos!").

Acontece que, naquela época, a Constituição ficava trancada a sete chaves em uma sala isolada e só podia ser acessada com permissão da diretoria. Fui levado a uma sala anexa e começou o inquérito. O "carrasco" — ops, o diretor — me interrogou sobre meus motivos, minha identidade, e a razão de um jovem querer estudar a Lei Máxima da Nação. A sessão só findou quando eu o convenci de que não iria desencadear uma revolução, que estava apenas querendo estudar para uma prova e não tinha intenções subversivas.

Tenham certeza: quando a nossa biblioteca estiver pronta e aberta ao público (está sendo reformulada), os livros estarão acessíveis sem interrogatório!  Enquanto isso, querido público, fiquem à vontade em conhecer nossas sessões de cinema e exposições. Consultem a programação em nosso site (rearte.com.br) e agendem sua visita!

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE